tag:blogger.com,1999:blog-56281040015302237842024-02-19T00:24:10.544-08:00TextsMartinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comBlogger20125tag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-24728824912022341792020-09-01T23:24:00.002-07:002020-09-01T23:24:16.071-07:00Pinturas sem horizonte - João Pinharanda<p></p><div class="post-outer"><div class="post hentry" itemscope="itemscope" itemtype="http://schema.org/BlogPosting" style="margin: 0px 0px 45px; min-height: 0px; position: relative;"><a name="8630650827504833667"></a><div class="post-header" style="font-size: 10.8px; line-height: 1.6; margin: 0px 0px 1.5em;"><div class="post-header-line-1"></div></div><div class="post-body entry-content" id="post-body-8630650827504833667" itemprop="articleBody" style="font-size: 13.2px; line-height: 1.4; position: relative; width: 696px;"><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: black; font-family: "Trebuchet MS", Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13.2px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p></div></div></div><p></p><div class="post-outer"><div class="post hentry" itemscope="itemscope" itemtype="http://schema.org/BlogPosting" style="margin: 0px 0px 45px; min-height: 0px; position: relative;"><div class="post-body entry-content" id="post-body-6408624696229928449" itemprop="articleBody" style="font-size: 13.2px; line-height: 1.4; position: relative; width: 696px;"><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: 13.2px;">As pinturas de Martinho Costa fazem-se tão perto dos motivos que são, quase sempre, pinturas sem horizonte.</span><span class="Apple-converted-space" style="font-size: 13.2px;"> </span></p><p class="p1" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"></span></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Tomadas de perto, sobre pormenores de uma realidade maior que raramente se revela, são também pinturas que iludem as suas dimensões (pequenas, médias ou grandes) para aspirarem a uma escala que as faria coincidir com o motivo - como o mapa que Borges fez coincidir com a realidade do território que registava. Mas, no processo de Martinho Costa não se trata de desenvolver um projecto totalitário de apreensão (mais no sentido da captura que do conhecimento) da realidade; trata-se antes de um projecto que, no seu desejo de ”pintar tudo”, se apresenta como modalidade de resgate da realidade.</span></p><p class="p1" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"></span><br /></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Tempo houve em que o artista, nas suas<span> </span><i>Pinturas ao Ar Livre</i>, ironizava sobre a tradição naturalista e “ar librista” pintando directamente sobre paredes, muros ou outros materiais de construção (como pedras de calçada) que integravam os próprios motivos das pinturas. Martinho Costa afastou-se depois da materialidade exacerbada que essa prática conferia às imagens, muitas delas pintadas em lugares de difícil acesso e deixadas ao abandono e degradação natural, nos suportes imóveis onde tinham sido criadas. Isso não afastou Martinho Costa da tarefa principal que a sua pintura propõe: a valorização do que, em nosso redor, tende para a invisibilidade, para o anonimato, para a perda. Pelo contrário, dando-lhe mais mobilidade permitiu-lhe desenvolver mais vastos mapeamentos do mundo exterior numa profusão de imagens que depois apresenta em diversas soluções de dimensão, montagem e formato.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Em séries mais recentes, quando pinta sobre uma superfície dobrada em ângulo recto, cria uma esquina (uma dobragem) que descoincide com a realidade que representa, mas que confere realidade tridimensional ao ilusionismo das imagens planas. Também quando compõe a esquina interior de uma sala de exposições, criando uma grelha de dezenas de pequenas imagens, como se fossem<span> </span><i>tumbnails</i>, Martinho Costa mima a estratégia de apresentação de um<span> </span><i>portfolio</i><span> </span>de artista (do seu<span> </span><i>portfolio</i>) numa página de motor de busca aberta num<span> </span><i>écran</i><span> </span>de computador. Martinho Costa estabelece assim um atlas de imagens banais ou que poderemos mesmo classificar de<span> </span><i>sub-normais</i><span> </span>devido à irrelevância poética, literária, visual que as podem justificar. Ao executar verdadeiros<span> </span><i>raids</i>, apresentando-se com uma visão de 360º, limpando o campo minado do que é belo e relevante no mundo, o artista concentra-se apenas no resto (ou nos restos) da realidade.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"> </span></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Na verdade, estas pinturas são fotografias realistas pensadas desde início como pinturas - o registo inicial perde-se ou é rejeitado no processo de criação pictural. Pensadas como pinturas / para serem pinturas elas seriam insignificantes enquanto fotografias. E é, em simultâneo, a partir e contra essas fotografias (ou a sua prática), a partir de um referente (a fotografia mecânica ou digital) que se desacredita que Martinho Costa recupera quer a dignidade da pintura quer a dignidade dos<span> </span><i>motivos indignos</i><span> </span>que escolhe.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"></span><br /></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Algumas pinturas expõem de modo especialmente claro o que dizemos:<span> </span><i>Árvore</i>,<span> </span><i>Portão</i>,<span> </span><i>Portão Verde</i>,<span> </span><i>Pano,</i><span> </span>por exemplo, representam a sua tendência para o<span> </span><i>close-up</i><span> </span>que revela o pormenor sem dar a compreender o todo. Os títulos, de sabor também naturalista, parecem acentuar o que as imagens mostram. De facto, são títulos falsamente descritivos, incompletos ou desviados; nunca dizem o mais importante, nunca focam o que é a centralidade da imagem: a<i><span> </span>Árvore</i><span> </span>é, afinal, um ser frágil, juvenil e descentrado; o<span> </span><i>Portão</i>, que ocupa a totalidade da superfície como um mero papel de parede, e dá nome à pintura, é visualmente menos importante que o estreito ferro dobrado que corta a imagem com uma linha oblíqua e a sua sombra, que é onde o nosso olhar imediatamente se concentra; o<span> </span><i>Portão Verde</i>, mantém as mesmas características de fuga, surgindo ainda como fragmento dentro do fragmento - elemento também deslocado do cento de uma parede inacabada, sai do nosso campo de visão deslizando pelo lado direito imagem; as mesmas constatações valem para o modo como<span> </span><i>Pano</i><span> </span>nos é apresentado.</span></p><p class="p1" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"></span><br /></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Há ainda pinturas que, mantendo características das anteriores, podem funcionar como testemunho maior ou manifesto de todo o processo e projecto de trabalho de Martinho Costa:<span> </span><i>Sol Negro</i>,<span> </span><i>Falsas Montanhas</i>,<span> </span><i>Pá</i>, por exemplo. Desejo que, ao encadeá-las assim, a sua posição, não signifique qualquer hierarquização - todas três me parecem de igual importância: a tampa da objectiva que (vista? encontrada? atirada? inadvertidamente caída?), no chão, cifra (mas ao mesmo tempo desvenda) a tarefa de registo fotográfico a que se dedica o pintor; a falsa paisagem de montanhas (evidentemente “sem horizonte”) composta por um monte de papéis amarrotados, amontoados no chão e onde os jogos de ilusão e escala são decisivos; finalmente, o lixo que uma pá doméstica de cabo recolhe como se recolhesse algo de precioso, merecedor de ser representado. Note-se que todas estas coisas (e também o<span> </span><i>Pano</i>, já referido) são “coisas do chão”: vistas, encontradas, apanhadas (?), representadas em terra solta, semeada de ervas daninhas, em cimentos sujos e mal tratados, perto de muros mal conservados, portões ferrugentos... É a pintura que eleva o estatuto destes motivos.</span></p><p class="p1" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"></span><br /></p><p class="p2" style="background-color: white; color: #262524; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">No conjunto de imagens que nos interessou destacar apenas a pintura<span> </span><i>Baliza</i><span> </span>se apresenta integra e central ao nosso olhar. Talvez possamos pensar que ela é metáfora da rede que, receptáculo e armadilha, passiva e activa, acolhe / captura o nosso olhar para o seu interior, para a interminável teoria de imagens que Martinho Costa vai desdobrando à nossa frente em<span> </span><i>scroll down</i>. De qualquer modo, há outra uma dupla leitura: através das sombras da baliza que avançam em nossa direcção toda a estrutura se reverte e se expande-se até ao campo físico que ocupamos (ou seja, para fora da pintura). Não sabemos se o faz como ameaça se como convite.</span></p><p class="p3" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"></span><br /></p><p class="p4" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><span style="font-size: x-small;">João Pinharanda</span></span></p><p class="p4" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><span style="font-size: x-small;">Paris, 8 de Março de 2020</span></span></p><div style="clear: both;"></div></div><div class="post-footer" style="background-color: transparent; border-bottom: 1px solid transparent; color: transparent; font-size: 10.8px; line-height: 1.6; margin: 20px -2px 0px; padding: 5px 10px;"><div class="post-footer-line post-footer-line-1"><span class="post-comment-link" style="margin-left: 0px; margin-right: 1em;"></span><span class="post-icons" style="margin-right: 1em;"></span><div class="post-share-buttons goog-inline-block" style="display: inline-block; margin-right: 0px; margin-top: 0.5em; position: relative; vertical-align: middle;"></div></div><div class="post-footer-line post-footer-line-2"></div><div class="post-footer-line post-footer-line-3"><span class="post-location" style="margin-left: 0px; margin-right: 0px;"></span></div></div></div></div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-22603331545339370262020-09-01T23:22:00.001-07:002020-09-01T23:22:33.508-07:00A fascination for the visible by Vanessa H. Sánchez in conversation with Martinho Costa<p><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; text-align: justify;">The best way to explain what Martinho Costa presents us in his new exhibition Testigo (Witness) is with his own words: "It must be said that the exhibition is not about Spain or the theme of landscape nor travel" ... But this exhibition begins with a trip indeed; a trip that he does not want to refer to, for all that the philosophy of the trip entails, or does not want to talk about how the artist embodies the figure of the traveller, a seeker with no return, or maybe he does not want to see himself as a tourist, as it is described by Paul Bowels in "The protective sky**", where the tourist will travel the world as a collector of sensations, being always aware of his return, because this is not what Martinho Costa wants to talk about. Because this exhibition is not about the trip.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span lang="EN-GB">Testigo emphasizes the particularity of painting as the discipline of the gaze <i>par excellence.</i> From a slow, in-depth look, which does not pursue moral discourses or any other kind of narrative, we will not find anything but the pure act of presenting things made painting; a kind of look that makes you remain analytical. As the fifteenth century treatise "Della Pittura" by Leon Battista Alberti introduces us to a new era of painting, breaking with the old medieval system and dismantling the concept of genius in favour of the virtues of diligence and dedication involved in visual appearances, Martinho Costa brings these concepts to the contemporary, to understand what we see in the pause of the analysis, and to see and understand things because we are observing them. And this is his trip, seeing and understanding in new places, with new eyes.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span lang="EN-GB">In his case, it is the camera he uses as a sketchbook, as an observation tool, as a traveling painter of the eighteenth century, who would wrote down all his visual experiences of the new world in notebooks - and then gave free rein to the colonizing ideas of the exotic -. Martinho Costa collects his images as sketches that become sensitive looks of the mundane, but how to span the entire world and catch it? It seems that this is the artist's main goal: to understand - as a philosopher would - what happens in the world and how to express his hypotheses about it in painting. Each new work of the artist consists of <span style="color: red;">a <i>whole</i></span> at the same time. But, when the option is the whole, how do we get to decipher that <i>whole</i>? Martinho Costa starts from the idea of archiving, as a sensitive archive of things, of the tangible, and it is here that he faces what he means by painting and what he does not<span style="color: red;">. There is a first empirical and intuitive work in selecting the images he wants to paint but this does not always follow a pattern.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span lang="EN-GB">A new approach to his pictorial practice can be seen in Testigo: he has stripped himself of the technology that always accompanied him to face the canvas directly. A confrontation that makes him work faster and more intensely, where he sees* his weaknesses as an exposed painter and that makes him reflect clearly in these terms: “I recently listened to a podcast about Francis Bacon’s current exhibition in the Pompidou, which talked about the idea of strength in his painting, something that made me think. The painting as witness of the painter's force on the record of matter*. Painting made meat. Now that I practice this “no-grid”* way of painting the muscle is more evident. The gesture is longer, it has more doubts, sometimes it turns out, sometimes it does not. It is a real battle. You lose or you win. Before, it was all a bit more controlled, more towards the result, "without thinking" as Gerard Richter says. Now I rather pursue what I decide is important in an image (an essence).” It is for all this, perhaps, that in this exhibition we see remnants, paintings that would lead us to abstraction or ambiguity, a definitive new manner for Martinho Costa, a fascination for the visible.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span lang="EN-GB"><br /></span></p><p class="p1" style="font-family: Avenir; font-size: 12px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: right;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><b>Una fascinación por lo visible</b></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span lang="EN-GB"><span style="color: #6c6c6c; font-family: Avenir; font-size: 9px; text-align: right;">por Vanessa H. Sánchez en conversación con Martinho Costa</span> </span></p>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-35399001431175768112018-03-29T09:57:00.000-07:002018-03-29T09:59:54.424-07:00Gradient Tool de Martinho Costa<br />
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Maria de Fátima Lambert</span></i></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 240pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 426pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="IMG_2065" src="file:///C:/Users/ASUS/AppData/Local/Packages/oice_16_974fa576_32c1d314_a6e/AC/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.jpg">
</v:imagedata></v:shape></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 70.8pt;">
<span lang="FR" style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: FR;">“Sans promenade, je serais mort et
j’aurais été contraint depuis longtemps d’abandonner mon métier, que j’aime
passionnément. Sans promenade et collecte de faits, je serais incapable
d’écrire le moindre compte rendu, ni davantage un article, sans parler écrire
une nouvelle. »<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="FR" style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Painel-ideia
1<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
São inúmeros
os escritores e filósofos, tanto quanto, artistas e poetas que aludiram aos
benefícios da marcha, do ato de caminhar, tomando-os como substância, mas
também enquanto metodologia para dinamizar seu pensamento autoral. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Caminhar
nutre as reflexões que são plasmadas em obra. As caminhadas impulsionam à
criação, promovem a gestação de ideias, sob diferentes perspetivas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
Intermédio-imagem 1<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 2.4pt;">
Alimentam-se com as
suas imagens do mundo vivido de modo lento. Tornando, assim, o
caminhante-em-modo-recetáculo, propiciado esse estado pelo ritmo
antropológico/psico e sociofisiológico que se autoriza: a demora na passagem
das horas – lembrando Fernando Pessoa, quanto Walter Benjamin. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 2.4pt;">
Absorvem
conhecimentos cinestésicos do real, mergulhado o caminhante, aquele que marcha
ou divaga, no real envolvente, esse <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Umwelt</i>
que adensa a tomada de consciência de todas as aceções do que está disponível a
ser experienciado em redor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
A velocidade é implementada, pela sua
lentidão, instaurando ritmos que o caminhante controla, decide, tendo
deliberado e supondo as condições necessárias ao seu desenvolvimento.
Deslocando em tempo de seu bel-prazer – deixando arrastar enquanto autorretrato
na paisagem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Flexibiliza-se a capacidade de
encontrar os outros, comungando de idênticos pressupostos e premissas, pois
compartilhando desígnios e auspícios superiores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Relembro Nelson-Brissac
quando assinala: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">“Silhuetas recortadas contra a paisagem. Imagens arquitecturais
se destacando no horizonte. Pessoas e lugares que pretende encontrar depois da
próxima curva. A viagem é produção de simulacros, de um mundo puramente
espectral erguido à beira da estrada.”<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Painel-ideia
2<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
São fortes
as imagens pintadas que evocam o confronto de um artista, poeta ou filósofo,
como que emergindo, sobrelevando-se, levitando na natureza melhorada ou
registada, convertida, pois em cenário ou paisagem explícitas. Relembre-se
Rousseau, Thoureau, Baudelaire, Benjamin ou Herman Hesse…entre tantos outros
que contribuíram para converter as caminhadas, deambulações ou flâneries em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Walkscapes, </i>na designação de Francesco
Carreri.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="mso-fareast-language: PT;">O caminhante, assim como viajante, é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">eu, </i>tanto quanto é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">outro </i>e/ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">outros. </i>Caminhada,
trajeto e viagem são deliberações sérias, orientam-se pela consecução de
condições privilegiadoras para edificar obras, fixando bases sustentáveis, pela
identidade que nunca se fecha, antes de processa em etapas agregadoras e
únicas.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-language: PT;">“O mundo é, por conseguinte, uma
imensa paisagem onde o empírico e o mental se entrelaçam inevitavelmente. O ser
humano não é um observador separado que configura essa paisagem, mas sim incide
nela, ao pretender apreciá-la, medir e conhecer.”<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Intermédio-imagem 2<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Estas considerações anteriores, tomo-as
por impulsos, em termos iconofrásticos/ecfrásticos. Vejo-as consubstanciadas em
dois retratos sublimes da iconografia europeia, que são indiscutivelmente emblemáticos:
a pintura de autorretrato, intitulada “Bonjour Mr. Courbet” de Gustave Courbet
(1854) e a (re)presentificação de Goethe na paisagem bucólica romana, tomada na
pintura de <span style="background: white; mso-bidi-font-family: Arial;">Johann
Heinrich Wilhelm Tischbein (1787). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="background: white; mso-bidi-font-family: Arial;">No primeiro caso, o próprio pintor se perceciona e
representa – idealizado mas realista. Integra a paisagem na conversa,
decorrente do encontro que é cativado, como já de uma fotografia espontânea, um
registo, se tratasse; no segundo caso, o poeta, filósofo e investigador é
idealizado pelo pintor clássico, situando-o numa espécie de lugar-entre. Ou
seja, estendido numa chaise-longue em plena <i style="mso-bidi-font-style: normal;">romana
campagna</i>, na distância estendida sob a linha de fuga certeira, vêem-se os
vestígios das civilizações, assim como os elementos de lapidária, próximos aos
seus pés negligentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Painel-ideia
2<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
No caso de
Martinho Costa, combinam-se estas duas aceções, unificadas na ideia do
caminhante, acima evocada, se consideradas portanto em planos concomitantes, e
que convergem na sua produção artística desde há mais de uma década. Como Mr.
Courbet, o pintor português caminha adentro a paisagem entre o campo, os
subúrbios e a cidade, recebendo as imagens em redor, mas deixando as suas
imagens pintadas no próprio local, num ato de dádiva e partilha anónima. Quem
passar, reconhecerá ou não, um excerto de paisagem que, certamente, possui
alguma relacionalidade com o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">locus</i>,
ainda que possa não estar evidente na aparência da pequena, breve (ou não)
composição. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Enquanto
paráfrase da figura de Goethe, idealizando a sua presença na paisagem
urbana-natural, Martinho Costa possui a lucidez da diferença e das conquistas
socioculturais, assim como estéticas do real visto que evoca fora de
espaço-tempo convencional, mas sem que essas coordenadas sejam totalmente
alheias ao empastamento dos 3 tempos do tempo – passado e futuro no presente
(que nunca é duradoiro). Diga-se que na sua pintura a efemeridade não se coloca
na questão do tempo, mas nos constrangimentos do espaço-lugar, entendidas as
suas imponderabilidades. Alguém pode pintar, um dia mais cedo ou mais tarde,
por cima do excerto pintado por Martinho Costa, tendo por suporte uma pedra ou
um pedaço de muro…e a obra desaparecerá…ou persistirá em condição de
palimpsesto… Trata-se da sua série-projeto-trajeto “Pinturas ao ar livre”, na
verdadeira aceção do termo. Vejam-se em <a href="http://pinturasarlivre.blogspot.pt/">http://pinturasarlivre.blogspot.pt/</a>
. Para cumprir este propósito, o artista caminha, desloca-se para intuir o
local certo que carece a sua intervenção de pintura tematizada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Em algumas
pinturas da série “Terra de Sombra Queimada”, apresentadas em 2017,
encontram-se abordagens ao espaço enquanto cenário de vastidão, que gerem uma
aceção panorâmica de localizações interiores ou exteriores, estabilizadas numa
composição que é regularizada pela estruturação reticular distendida, sob
auspícios de abordagens feitas no computador. Todavia, o procedimento dialoga
com as estratégias a que, com maior frequência, no Renascimento e Barroco, os
pintores recorriam para transpor o vista, mediante uma simetria e regularidade
idealizada, mas provindo de uma observação de teor naturalista. Estes
dispositivos, associavam-se, por exemplo, e no caso de alguns autores, a partir
de uso de desenhos em gravuras que eram tratados sob formato de pintura, à
semelhança do que mais tarde serviu, para alguns, a fotografia como registo
para transposição pictórica. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span lang="FR" style="mso-ansi-language: FR;">Intermédio-imagem 3<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.8pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span lang="FR" style="mso-ansi-language: FR;">“</span><span lang="FR" style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: FR;">Marcher, dans le monde contemporain, pourrait évoquer une forme de
nostalgie ou de résistance. Les marcheurs sont des individus singuliers
qui acceptent des heures ou des jours de sortir de leur voiture pour
s’aventurer corporellement dans la nudité du monde.»<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="FR" style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Painel-ideia
4<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Evocam-se
estas considerações para contextualizar o processo iniciado com as pinturas
murais produzidas para a Sala da Quase Galeria, assim como para os dois grandes
painéis colocados nas laterais do lanço da escadaria central do Museu Nacional
Soares dos Reis, quando subindo do 1º para o 2º piso. Durante vários meses,
incluindo vindas específicas ao Porto, Martinho Costa, percorreu o Museu, assim
como se parou na Sala da Quase Galeria, calculando internamente as
características de ambos lugares e mentalmente trasladando as suas ideias-imagens-ideadas.
Assim, quer num caso, quer no outro, o artista tomou como conteúdos iconográficos,
painéis de Azulejos vistos previamente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
No Museu, e
para conceber os dois painéis verticais laterais, analisou pormenorizadamente
os painéis de azulejos que forram os muros que conduzem à escadaria, no seu
pátio interior. Deles, destacou algumas figuras e situações específicas que
interseccionou, combinando-as com elementos gerados em computador. A partir de
uma organização cuidadosamente delineada, dividiu as figuras e formas,
desfragmentando-as por assim o dizer. Tais fragmentos foram tratados de forma
deliberada, jogando entre a opacidade da cor e os dinamismos figurativos das
linhas e das sombras estipuladas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Intermédio-imagem 4<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Para a Sala da Quase Galeria tomou
como fonte, grandes áreas de azulejaria de um palacete no Chiado, em Lisboa,
procedendo de forma idêntica. Um dos denominadores comuns entre ambas obras
específicas, reside na luz. Melhor, na constatação da incidência da luz, quer
na Sala da Quase, quer nas Escadarias do Museu. Sob condições de luminosidade
aberta, e consoante a passagem das horas viu anularem-se significativamente o
que estava para ser visto dentro desses espaços e, por consequência, imaginou
as figuras a desfazerem-se das suas tonalidades altas de cor e contornos,
volumes e significados visuais, para se ocultarem por essa ação do tempo. Donde
as velaturas sobrepostas e graduadas como no software <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gradient Tool. </i>A partir daí, há que pensar que a caminhada, a
deslocação no lugar, não é mais a do artistas, mas a do visitante que haverá de
agarrar as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nuances, </i>as ínfimas diferenciações<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>estabelecidas, e sabendo posicionar-se,
definindo o seu lugar de espectador, sabendo usufruir da sua condição de
observador.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Painel-ideia 5<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
As árvores
inclinadas ou entrelaçando-se dividem as cenas nos grandes painéis de azulejos,
organizando-lhes a sequência, pontuando a narrativa intrínseca e isolando as
unidades evidenciadoras das narrativas ou relatos. As figuras recortadas em
perfil ou a ¾ insinuam-se, evocativas de uma tradição que radica nos painéis
azulejares dos sécs. XVII e XVIII em Portugal. Tais pinturas em azulejo
decorriam, com alguma frequência, de uma composição que trazia elementos
copiados de gravuras convenientes, associadas a detalhes estilísticos,
consoante o gosto estético dominante, e próprio da oficina que os produzia.
Existe pois, uma espécie de vocabulário, de glossário visual que permite
reencontrar figuras-tipo e inventariar situações e episódios, proporcionando
uma cumplicidade entre um saber mais lato – em termos de público, não apenas
erudito, e outros que exacerbam mais o culto das artes e dos saberes. Mas a
sedução azulada destas unidades cerâmicas encontrou eco nos papéis pintados com
a subversão da escala – azulejos desmesurados – e nos quadrados menores de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mdf</i> pintado, colocados na diagonal, dos
dois “vitrais de azulejo” nos patamares do Museu Nacional Soares dos Reis. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Intermédio-imagem 5<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Sem que eu possa calar-me, olhar os
painéis pintados de Martinho Costa, obrigam-me a regressar à Serra d’Ossa, a
memórias desses mergulhos nos tempos que, anualmente, eu repito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Percorrer os corredores escurecidos do
Convento de São Paulo, deslizar o olhar, ao longo das paredes [espessas]
forradas, sendo os azulejos uma espécie de pele que, de tão esticada, se
indissocia do “dentro”, sedimento das entranhas de eremitas e senhores. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
As portas interrompem os panos/ as
cenas, “semantizando” vivências iconografadas e assim, nos vão incorporando, ao
relatarem episódios representados – quer do Velho e do Novo Testamento; assim
como cenas galantes, que os ingleses designariam por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conversation piece </i>e os holandeses tanto gostavam de celebrar nas
suas cenas de intimidade da família nos ritmos costumeiros. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Painel-ideia 6<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
40 unidades escrevem-se em 5 linhas paralelas, compostas na
horizontal e cruzadas na vertical por 8 conjunto de elementos consecutivos. O
tempo desliza na pele do papel engrossado pelas camadas de tinta e as
sucessivas velaturas aguadas que, num direcionamento em quase diagonal
esbranquiçam o azulado, sem todavia o desmanchar. Apenas o apaziguam, consignados
pela luz que jorra pela porta envidraçada adentro. Não vem junto nada de
paisagem. A paisagem deteve-se, não querendo imiscuir-se com a alegoria de
dentro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Intermédio-imagem 6<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
Porta envidraçada verdadeira, porta interior
d madeira e de verdade [“…onde se vê absolutamente nada”, parafraseando Manoel
de Barros, poeta de Góias, Brasil], paredes verdadeiras: eis o que se desenrola
na arquitetura da Sala da Quase Galeria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Painel-ideia 7<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Os perfis garbosos insinuam-se, sobrepondo-se aos fundo
invisibilizados da paisagem que funciona como base de sustentação. As figuras
param-se na postura justa, comprovando a prevalência da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">concinnitas. </i>Os adereços afeiçoam a veracidade pintada,
pormenorizados por traços regimentados por pulsões controladas. O todo compõe-se
da visão, da acuidade das imagens-ideias que conseguem autonomizar-se do seu
autor. O detalhe, sabemos com Daniel Arasse quanto é insubstituível na nossa
consciência de ver, de detetar, poderá cumprir a função do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">punctum</i> dito por Roland Barthes – penso eu. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Intermédio-imagem 7<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
A figura de convite congelou-se no
átrio anterior à Sala da Galeria, esboçando um tímido acolhimento a todos que
aí se dirijam. Não é uma figura impositiva (apesar de seu traje esmerado,
erudito mesmo), aliás encontra-se algo embaraçada de tanto azul e branco a
destaca-la da parede e sob luz de um foco artificial à noite. Sente-se
iluminada de dentro para fora. Ao longo do dia, vai readquirindo aquela postura
– re-ganha confiança em si mesma – torna-se invejável, à semelhança daqueles
seus antepassados ocuparam em palacetes e casas solarengas para deleite dos
ilustres e de todos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Painel-ideia 8<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nalguns casos clássicos da história da pintura, as figuras
desvaneciam-se, perdiam-se, porque escondidas ou dissimuladas na paisagem –
quer interior, quer exterior. Na azulejaria, os painéis expunham figuras entre
o galante e o mitológico, apropriando-se da subversão dos tempos históricos,
embora a eles aludindo em ritmos estudados. Nos 2 painéis de azulejos
simulados, pintados em formatos desconvencionados, a descoberta impõe-se
procurando o reconhecimento das ideias – e não tanto das figurações – a que
Martinho Costa quis aludir, nomeadamente na proximidade dos grandes vasos que
ladeiam a grande vidraça por onde a luz há-de entrar sempre.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Intermédio-imagem 8<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 70.8pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">“É de ressaltar que as imagens
privilegiam a paisagem urbana e a natural, sendo raros os casos onde o homem se
faz presente; quando isto ocorre os indivíduos registrados encontram-se
distantes da câmara, diluídos ao fundo da representação.”<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
CODA<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Haverá que deambular, depois, pela cidade do Porto, de modo
a encontrar as pinturas escondidas que Martinho Costa nos possa legar, como
testemunho simbólico desta sua incursão-viagem-caminhada. Também…porque cumpre
o que Xavier de Meistre aconselhou:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 70.8pt;">
<span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">“Feliz também o pintor cujo amor pela paisagem o leva a
passeios solitários, que sabe exprimir na tela o sentimento de tristeza que lhe
inspira um bosque sombrio ou um campo deserto! As suas produções imitam e
reproduzem a natureza; ele cria novos mares e negras cavernas ignotas ao sol: a
seu mando, verdes arvoredos saltam do nada, o azul do céu reflecte-se nos seus
quadros; conhece a arte de turvar os ares e de fazer rugir as tempestades.”<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-ansi-language: FR;"> <span lang="FR">Robert Walser,
« Promenade », citado por David le Breton, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcher, éloge des chemins et de la lenteur</i>, Paris, Métailié, 2012,
p.28<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "times new roman" , serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> Nelson Brissac Peixoto – “Miragens”, <i>Cenários
em ruínas – a realidade imaginária contemporânea</i>, Lisboa, Gradiva, 2010,
p.137</span><o:p></o:p></div>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Gloria Moure, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On the Road, </i>Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, 2014.</span><o:p></o:p></div>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="FR" style="mso-ansi-language: FR;"> David le Breton – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Éloge de la marche,</i> Paris, Métailié, 2000, p.14<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "times new roman" , serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> Boris Kossoi, <i>Realidades e ficções na trama
fotográfica</i>, SP, Ateliê Editorial, 2002, p.101</span><o:p></o:p></div>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal">
<a href="file:///C:/Users/ASUS/Documents/Pintura/2018/Gradient%20Tool/Gradient%20Tool%20de%20Martinho%20Costa.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">
Xavier de Meistre, <i>Viagem à roda do meu quarto</i>, Lisboa, & etc, 2002,
p.32-33 (Cap. </span><span lang="FR" style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">VII)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
</div>
<br />Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-8021482690206847882016-10-28T13:17:00.000-07:002016-10-30T13:13:49.087-07:00Martinho Costa: Coleccionar el mundo y traerlo a casa - Ángel Calvo Ulloa<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span lang="ES">Martinho Costa: Coleccionar
el mundo y traerlo a casa.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="ES">Martinho Costa trabaja de manera obsesiva alrededor de un archivo
inabarcable, echando mano siempre de la tradición pictórica y generando
comparativas entre el pasado y el presente de una disciplina que
inevitablemente se ha visto sorprendida ya no por la histórica irrupción del
retrato fotográfico, sino por la banalización del disparo. <i>Folding screen</i> supone un análisis en torno al consumo de imágenes
que realizamos en la era en que internet ya no destaca únicamente por su
utilidad, sino por haberse convertido en un medio ineludible que entre otras
necesidades genera la de inmortalizar instantes que segundos después pierden su
importancia. Fotografiamos de manera compulsiva y por esa misma razón hemos
provocado que con el paso del tiempo el recuerdo apenas tenga opciones de ser
modificado mentalmente. Si recordamos quizás alguno de esos instantes destacados
en la vida de cada uno, el uso que se daba a la fotografía era hace poco más de
quince años totalmente distinto. El disparo se producía cuando la escena se
encontraba perfectamente compuesta y esa imagen pasaba a convertirse en el
resumen de aquel recuerdo que el discurso articulaba para finalmente
convertirse en tradición oral, en punto de partida de una anécdota levemente ilustrada.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="ES">Cada uno de los montajes de Martinho Costa suele destacar por la materialización
de ese colapso al que un simple scroll en una red social nos expone varias
veces al día. Si la pintura se caracteriza por conceder a la imagen una categoría
y durabilidad distintas, elegir de entre ese ilimitado banco fotográfico las
que merecen perdurar se convierte en un juego casi caprichoso. No es de
extrañar entonces que cuando se ofrece la posibilidad de mostrar un trabajo de
un modo casi retrospectivo, el resultado sea nuevamente un empacho en el cual
la unicidad de la imagen pintada termina por convertirse en un exceso en que la
duda nos asalta acerca de la verdadera importancia de cada instante aquí contenido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="ES">Buena muestra de esto es la serie <i>48
Retratos</i>, secuencia homónima de la presentada por Gerhard Richter en 1972
en el pabellón alemán en Venecia. En la de Richter el motivo elegido era una
sucesión subjetiva de los personajes más importantes del siglo XIX y la
selección destacaba por el dominio del hombre blanco, europeo o norteamericano.
En 1998 Richter revisó la obra y generó a partir de las fotografías de cada uno
de esos retratos una nueva versión de este trabajo, que recuperaba la forma
fotográfica inicial y ahondaba en su interés por trabajar mediante el
desplazamiento de géneros entre la pintura y la fotografía. En los cuarenta y
ocho retratos de Martinho Costa, desconocemos el nombre propio de cada
retratado; las imágenes ya no son extraídas de enciclopedias sino de internet y
cada uno de los personajes anónimos aparece de espaldas o camuflado tras su
indumentaria de trabajo. Es interesante recuperar entonces esa declaración del
propio Richter, que afirmó que <i>algunas
fotos de aficionados son mejores que el mejor Cézanne</i>. El personaje
histórico es sustituido por el ciudadano anónimo que pasa así a ocupar el
espacio del retrato pictórico, otrora protagonizado por el prohombre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span lang="ES">Resulta irónico descubrir en la pared
contigua una gran pintura de 2011 en la que se presenta el bosque de
Fontainebleu, cercano al pueblo de Barbizon, donde tuvieron lugar las primeras
aproximaciones a lo que sería la pintura al aire libre. Costa extrae de la
aplicación Google Street View una vista al alcance de cualquier internauta, que
al mismo tiempo supone una adaptación al momento presente </span><span lang="ES">de </span><i><span lang="ES" style="background: white;">Le Pavé de Chailly</span></i><span lang="ES" style="background: white;">, la pintura realizada en 1965 por Claude Monet en
el mismo lugar. Lo interesante de estos ejercicios de Martinho Costa pasa por
la forma que tras el análisis adquieren las imágenes. Costa bebe de una
tradición que si en el siglo XIX ya se había visto condicionada por los avances
en el campo de la fotografía, en plena era de su desmaterialización y de su banalización,
evidentemente ha vuelto a poner en entredicho el papel de la pintura hoy.</span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span lang="ES" style="background: white;">La primera vez que me enfrenté a la obra de Martinho Costa lo hice ante
una serie de pinturas realizadas sobre fragmentos de mármol de corte irregular,
reciclados de entre los escombros de un aserradero de piedra. A esa necesidad
de trabajar ofuscadamente sobre cualquier soporte se unía el dotar su pintura
de un peso físico mayor del habitual. Las imágenes podían provenir de un
aficionado anónimo y sin embargo la gravedad de su representación se convertía
en una característica unida a sus bordes mellados, como si se tratase de los
fragmentos de un friso recuperado de entre los cascotes de alguna ruina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span lang="ES" style="background: white;">Ahora conviven algunas de esas pinturas con los <i>48 Retratos</i>, con
su vista de <i>Fontainebleu</i>, con la proyección de las animaciones realizadas
entre 2008 y 2014 y con otras series como O <i>Diário de Robert Stern</i> o <i>Todos
os dias saio por um caminho diferente</i>. Para la primera Martinho Costa
realizó un seguimiento de la vida de Robert Stern, un ciudadano de Pensilvania
que obsesivamente publica sus fotografías en la web Flickr. Costa decidió
pintar durante 2011 una extensa selección de imágenes extraídas del día a día
de este individuo que todavía hoy ignora la existencia de esta serie de
pinturas. Costa echa mano de esos pequeños fragmentos de vida privada que ha
sido hecha pública por su protagonista y actúa como un voyeur ante la pantalla
desdoblada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span lang="ES" style="background: white;">En <i>Todos os dias saio por um caminho diferente </i>la intimidad que
se hace pública es la de su propio estudio. Costa traslada al DA2 una selección
de las treinta y seis pinturas que componen esta serie cuyo título se extrae de
las <i>Quejas de Menón por Diótima</i> de Hölderin. El resultado es una
sucesión de detalles aleatorios tomados del espacio en el que surge ese modo
persistente de trabajar en torno a la imagen fotográfica. Dirá John Berger que <i>la
pintura colecciona el mundo y lo trae a casa</i>, una reflexión que se
convierte en catálogo en manos de Martinho Costa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span lang="ES" style="background: white;">Días antes de que la exposición abra sus puertas, ajeno al resultado
final de este montaje, puedo sin embargo intuir la aparición de alguna de sus
pinturas al aire libre en algún rincón de la ciudad de Salamanca. Tras estas
intervenciones subyace un deseo de interferir en la vida diaria de los espacios
urbanos, estableciendo un diálogo con el viandante y desmaterializando el
carácter de la obra, otorgándole un carácter público, expuesta a las
inclemencias y al maltrato, propiedad de todos y de nadie. Una acción
desdoblada que funciona a modo de biombo, pero también a modo de archivo
ilimitado de imágenes que pasan desapercibidas hasta que, en forma de pintura,
nos obligan a detenernos. Quizás ese sea el punto cero de la pintura de un
fotógrafo que trabaja como un pintor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNoSpacing" style="text-align: right;">
<span lang="ES" style="background: white;">Ángel Calvo Ulloa<o:p></o:p></span></div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-36540803877806449092015-08-13T03:06:00.000-07:002015-08-13T03:06:43.122-07:00EL Cultural - Julho 2015 - artigo de Bea Espejo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMn_SQN2oJG5PXXt4PzFlDTr9j4GqpO5038oFw85CZSmMyAuD31it0R2jc9I9vf3ENTz1PcSqlTvFulogWgoS7oQQwcOT_Hceu0bVyzt6juqH9RT_RPNR-cDpfPsPMYWii4ol6Ar_yaRuH/s1600/el+cultural+24-07-2015.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMn_SQN2oJG5PXXt4PzFlDTr9j4GqpO5038oFw85CZSmMyAuD31it0R2jc9I9vf3ENTz1PcSqlTvFulogWgoS7oQQwcOT_Hceu0bVyzt6juqH9RT_RPNR-cDpfPsPMYWii4ol6Ar_yaRuH/s640/el+cultural+24-07-2015.jpg" width="450" /></a></div>
<br />Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-4701899719807609912014-07-18T01:02:00.002-07:002014-07-18T01:02:17.392-07:00Artigo na publicação online PAC<br />
<br />
<h2 style="background-color: white; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 1.2em; line-height: 18px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #125e37;"><a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank">Martinho Costa: “Les Statues Meurent Aussi”</a></span></h2>
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><small style="background-color: white; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 0.8em; line-height: 18px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">17 Jul. 2014 Duas. Sara Gimeno Pose</small><span style="background-color: white; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 18px;"></span><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com%2Fpac%2Fmartinho-costa-%25e2%2580%259cles-statues-meurent-aussi%25e2%2580%259d%2F&layout=button_count&show_faces=false&width=450&action=recommend&colorscheme=light" style="background-color: white; border-style: none; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 12px; height: 30px; line-height: 18px; list-style-type: none; margin: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 450px;"></iframe><span style="background-color: white; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 18px;"></span></a><br />
<div class="entry" style="background-color: white; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 18px; list-style-type: none; margin: 0.5em 0px 0px; overflow: hidden; padding: 0px;">
<div class="social4i" style="height: 29px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="social4in" style="float: left; height: 29px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="socialicons s4twitter" style="float: left; list-style-type: none; margin: 0px 10px 0px 0px; padding: 0px;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><iframe allowtransparency="true" class="twitter-share-button twitter-tweet-button twitter-share-button twitter-count-horizontal" data-twttr-rendered="true" frameborder="0" id="twitter-widget-0" scrolling="no" src="http://platform.twitter.com/widgets/tweet_button.1404859412.html#_=1405669174413&count=horizontal&counturl=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com%2Fpac%2Fmartinho-costa-%25e2%2580%259cles-statues-meurent-aussi%25e2%2580%259d%2F&id=twitter-widget-0&lang=es&original_referer=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com%2Fpac%2Fmartinho-costa-%25E2%2580%259Cles-statues-meurent-aussi%25E2%2580%259D%2F&size=m&text=Martinho%20Costa%3A%20%E2%80%9CLes%20Statues%20Meurent%20Aussi%E2%80%9D&url=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com%2Fpac%2Fmartinho-costa-%25e2%2580%259cles-statues-meurent-aussi%25e2%2580%259d%2F" style="height: 20px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px; width: 121px;" title="Twitter Tweet Button"></iframe></a></div>
<div class="socialicons s4plusone" style="float: left; list-style-type: none; margin: 0px 10px 0px 0px; padding: 0px;">
<div id="___plusone_0" style="background: transparent; border-style: none; display: inline-block; float: none; font-size: 1px; height: 20px; line-height: normal; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 90px;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><iframe data-gapiattached="true" frameborder="0" hspace="0" id="I0_1405669174449" marginheight="0" marginwidth="0" name="I0_1405669174449" scrolling="no" src="https://apis.google.com/_/+1/fastbutton?usegapi=1&size=medium&count=true&origin=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com&url=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com%2Fpac%2Fmartinho-costa-%25e2%2580%259cles-statues-meurent-aussi%25e2%2580%259d%2F&gsrc=3p&ic=1&jsh=m%3B%2F_%2Fscs%2Fapps-static%2F_%2Fjs%2Fk%3Doz.gapi.pt_PT.JowJGvarCr4.O%2Fm%3D__features__%2Fam%3DAQ%2Frt%3Dj%2Fd%3D1%2Ft%3Dzcms%2Frs%3DAItRSTMa4H3RuOEOB5_eWecbP0yagv_0kg#_methods=onPlusOne%2C_ready%2C_close%2C_open%2C_resizeMe%2C_renderstart%2Concircled%2Cdrefresh%2Cerefresh&id=I0_1405669174449&parent=http%3A%2F%2Fwww.plataformadeartecontemporaneo.com&pfname=&rpctoken=25944320" style="border-style: none; height: 20px; left: 0px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px; position: static; top: 0px; visibility: visible; width: 90px;" tabindex="0" title="+1" vspace="0" width="100%"></iframe></a></div>
</div>
</div>
<div style="clear: both; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">
</div>
</div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><em style="list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">Les Statues Meurent Aussi</em> es una exposición realizada por Martinho Costa en la<span style="color: #125e37;">Galería 111</span> de Lisboa. El título de la exposición viene dado por el filme homónimo dirigido por Chris Marker y Alain Resnais en 1953, donde se procede al análisis de la recepción del arte africano por la sociedad occidental. No obstante, Martinho Costa se ha alejado de esta premisa, ya que la frase que da nombre a esta exposición, “Las estatuas también mueren”, invita, según el artista, a mayores planteamientos metafóricos que pueden dar nuevos sentidos al significado inicial de la obra de Marker y Renais sobre la concepción del arte, y crear por tanto nuevos objetos artísticos.</a></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: center;">
<span style="color: #125e37;"><a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><img alt="" class="alignnone size-large wp-image-28831" height="333" src="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/wp-content/uploads/2014/07/Martinho-Costa_-Daft-Punk-2014-copia-500x333.jpg" style="border: 0px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;" title="Martinho Costa_ Daft Punk, 2014" width="500" /></a></span></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><span id="more-28823" style="list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;"></span>Para ello, ha realizado una serie de piezas en distintos soportes como mármol, video-animación e incluso guantes de jardinería, donde ha elaborado una serie de pinturas provenientes de imágenes, tanto del presente como del pasado, realizadas por el propio artista y obtenidas de diversas fuentes como internet, películas de televisión o palabras procedentes de letras del canciones que él escuchaba en su taller mientras preparaba y ejecutaba las piezas que conformarían la exposición.</a></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: center;">
<span style="color: #125e37;"><a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><img alt="" class="alignnone size-large wp-image-28833" height="511" src="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/wp-content/uploads/2014/07/Martinho-Costa_Praia-2014-500x511.jpg" style="border: 0px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;" title="Martinho Costa_Praia, 2014" width="500" /></a></span></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank">El espectador, una vez se encuentra ante la obra, debe constituir los nexos poéticos de las pinturas que observa, con su propia percepción personal de las piezas que el artista intentó hacer basándose en ese conjunto heterogéneo de imágenes.</a></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: center;">
<span style="color: #125e37;"><a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><img alt="" class="alignnone size-large wp-image-28835" height="600" src="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/wp-content/uploads/2014/07/Martinho-Costa_Louvre-2014-447x600.jpg" style="border: 0px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;" title="Martinho Costa_Louvre, 2014" width="447" /></a></span></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank">Se establece así un diálogo entre Martinho Costa, su producción y el espectador, invitando a éste a reflexionar y crear sus propias conclusiones.</a></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: center;">
<span style="color: #125e37;"><a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><img alt="" class="alignnone size-large wp-image-28836" height="600" src="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/wp-content/uploads/2014/07/Martinho-Costa_Rapariga-com-cal%C3%A7%C3%B5es-2014-359x600.jpg" style="border: 0px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;" title="Martinho Costa_Rapariga com calções, 2014" width="359" /></a></span></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><strong style="list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">Artista</strong>: Martinho Costa</a></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><strong style="list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">Fechas</strong>: Del 7 de Junio al 31 de Julio de 2014</a></div>
<div style="list-style-type: none; margin-bottom: 0.5em; overflow: hidden; padding: 0px;">
<a href="http://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/martinho-costa-%E2%80%9Cles-statues-meurent-aussi%E2%80%9D/" target="_blank"><strong style="list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">Lugar</strong>: Galería 111, Lisboa – Portugal</a></div>
</div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-80475660899134096572014-07-11T04:52:00.001-07:002014-07-11T04:52:40.242-07:00Artigo Revista Actual 28 Junho - Jornal Expresso - Celso Martins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit559FGHrxEzZZ-0H76z2pTJI4hgwtADS5aE5NUHr1JeOsavb0xdYbmFZfItU8rc3nA3MnBbb2HApUkcXjoUF1OrJmwewloefM1MQPzkiRkmXlKtYudBc67DcReSdGtU-RWwLaYCRHzlXv/s1600/Martinho+Costa,+Jornal+Expresso,+28.06.2014.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit559FGHrxEzZZ-0H76z2pTJI4hgwtADS5aE5NUHr1JeOsavb0xdYbmFZfItU8rc3nA3MnBbb2HApUkcXjoUF1OrJmwewloefM1MQPzkiRkmXlKtYudBc67DcReSdGtU-RWwLaYCRHzlXv/s1600/Martinho+Costa,+Jornal+Expresso,+28.06.2014.jpg" /></a></div>
<br />Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-42992414597555148872013-05-20T00:12:00.002-07:002013-05-20T00:16:42.468-07:00Entrevista para a folha de Sala para a exposição - 5 Artistas em Sintra - Nextroom, Lisboa<br />
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: center;">
<b><i><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">5 Artistas em Sintra </span></i></b></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">MARTINHO COSTA, LUÍS NOBRE</span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL8Kq-nWWYsyYKwmXQHvO0VcQZbrUIkQFsuEHrp1aO6cdDvIzkunvRCgSmRMnCOVZG_CynxjFigjzEaX2j7o-lEp3V1jqFQKfS-PjvXtwle0gvGx21AwFg49pBVEHKa95hke1n7pb7bsg/s1600/DMF+Nextroom+Config+1-7348.jpg" imageanchor="1" style="color: #888888; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-decoration: none;"><img border="0" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL8Kq-nWWYsyYKwmXQHvO0VcQZbrUIkQFsuEHrp1aO6cdDvIzkunvRCgSmRMnCOVZG_CynxjFigjzEaX2j7o-lEp3V1jqFQKfS-PjvXtwle0gvGx21AwFg49pBVEHKa95hke1n7pb7bsg/s640/DMF+Nextroom+Config+1-7348.jpg" style="-webkit-box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.0980392) 1px 1px 5px; border: 1px solid transparent; box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.0980392) 1px 1px 5px; padding: 5px; position: relative;" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial; font-size: xx-small;">(c)DMF</span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></i></b></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></i></b></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">São os primeiros a inaugurar no Next Room. </span></i></b><b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Configuração #1 - 5 artistas em Sintra<i> foi criada especificamente para este espaço? Quais foram os motivos desta escolha?</i></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Martinho Costa</span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">: Sim, a exposição foi feita especificamente para o espaço. O que poderemos ver nesta primeira intervenção no Next Room, é uma exposição que junta a pintura, a fotografia documental e o desenho para configurar uma instalação, no 3º piso do edifício do Nextart. Estes trabalhos foram desenvolvidos por mim e pelo Luís Nobre, em colaboração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Já há algum tempo tinha vontade de dialogar com a pintura dos <i>Cinco Artistas em Sintra</i>,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">obra da autoria de Cristino da Silva, que estudei nas penosas aulas de História da Arte Portuguesa, na faculdade. Esta pintura representa um conjunto de artistas que é praticamente toda a geração dos artistas plásticos do movimento romântico português. A obra foi composta de uma forma muito cuidada, de tal forma que poderemos retirar algumas leituras sobre as intenções do seu autor (aposto que tinha as meninas do Velasquez na cabeça).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Vejo nesta espécie de <i>mise-en-scéne</i>, um “statement” sobre a condição do artista que o romantismo veio anunciar: alguém que procura na natureza um escape, uma evasão da realidade e, nesse espaço de recolhimento, a projecção dos estados de alma. É curioso notar que, entre os artistas, encontramos algumas pessoas do povo, mas apenas os artistas parecem dar-se conta de que têm uma “câmara” apontada, como um observador que os contempla. Apercebo-me que o autor colocou na tela alguns elementos da gramática do romantismo: a paisagem com um castelo ao fundo, um penedo gigante, irreal, que quase parece uma nuvem, uma atmosfera difusa de fim de dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Antes de pensarmos na dinamização deste novo espaço do Nextart, a minha ideia era ainda muito indefinida: faria um diálogo com a pintura, sob a forma de uma intervenção ao ar livre (do meu projecto das <i>Pinturas ao Ar Livre),</i>ou sob a forma de pintura de atelier. Acabei por optar pelas duas possibilidades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Pelo facto do Next Room ser um espaço ligado a uma escola de artes, pensei que esta pintura poderia ser um óptimo ponto de partida. Vejo nela uma certa cristalização da imagem do artista. Na pintura aparece um dos artistas a desenhar perante o olhar pasmado de alguns dos camponeses. O pintor surge-nos aqui como alguém dotado de um talento extraordinário, um ser fora da sociedade, muitas vezes incompreendido. Todo um conjunto de clichés que os românticos evidenciaram, apesar de já estarem há muito instituídos (desde o momento em que os artistas começam a assinar as suas obras). Algo que o Nextart, enquanto escola de arte, consegue desmistificar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">O Luís também tem interesse por uma certa revisitação do passado, além de uma enorme sensibilidade para intervenções no espaço. Decidimos, por isso, juntar as nossas diferentes abordagens num processo de contaminação, estabelecido desde o início, o qual seria desenvolvido numa expedição a Sintra. Essa viagem IC19 acima foi devidamente documentada através de fotografias. A exposição é composta pela conjugação dos trabalhos produzidos por cada um de nós e pela documentação da intervenção feita em Mira Sintra, com o Castelo da Pena como pano de fundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Com esta intervenção estão a tematizar questões ligadas ao Movimento Romântico. Quais são essas questões e por que motivo vos interessam?</span></i></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Luís Nobre</span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">: Na realidade este projecto é mais do que a intervenção que vemos neste espaço. Interessou-nos todo o processo, desde o trabalho em atelier até à procura de um local/situação que se aproximasse ao enquadramento da pintura <i>5 Artistas em Sintra</i> de Cristino da Silva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Reequacionámos a leitura da pintura citada, baralhando os valores simbólicos da Paisagem desenvolvidos pelo Romantismo (noção de escala, perspectiva, a relação do homem com os elementos da natureza, …)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">M.C. </span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">: Gosto de pensar nesta procura de um local de que o Luís fala, como uma espécie de deriva, uma viagem sem destino definido, nem finalidade concreta. Penso que esta viagem, inspirada pela pintura do Cristino da Silva, foi quase ensaística, no sentido de tentar desmontar a aura do autor que, como disse antes, está ainda presente na forma como este é olhado pelo público em geral. No meu trabalho <i>Pintura ao Ar Livre</i> feita em Mira Sintra,<i>Câmara Clara</i>, o artista está em pleno acto de representação através do desenho. É auxiliado nessa tarefa, por vezes difícil, por esse mecanismo que eu ensino a usar descomplexadamente aos meus alunos no Nextart.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">L. N.</span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"> :Considero o trabalho de atelier extensível a outros contextos, os elementos que influenciam os mecanismos durante esse processo alargam as possibilidades de execução/interpretação tendo em atenção uma série de factores em que o acaso e a rápida solução de problemas assumem importância extraordinária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">As temáticas abordadas em </span></i></b><b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Configuração #1 – Cinco Artistas em Sintra<i> fazem parte dos temas habituais do vosso trabalho? Como podemos contextualizar este projecto com o vosso percurso artístico? E porque decidiram desenvolver o trabalho em colaboração?<o:p></o:p></i></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">L.N. </span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">:<b><i> </i></b>Desde que o Martinho e eu nos conhecemos numa exposição em Madrid houve uma empatia que acabou por resultar neste projecto. Embora trabalhando com médiuns diferentes, em <i>Configuração </i>#<i>1</i> o desenho e a pintura constroem uma unidade que põe em causa os conceitos tradicionais de ambos os processos artísticos.<b><i><o:p></o:p></i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">M.C.</span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"> : No meu caso, faço muitas vezes diálogos com o passado. Quer seja com artistas ou obras específicas: <i>A Jangada da Medusa</i> de Gericault, no projecto das <i>Pinturas ao Ar Livre,</i> ou com <i>Fontainebleau</i> e a ideia de paisagem, revisitando um local específico no Google Earth de uma pintura de Monet. Outras vezes procuro temas da história da arte, como no caso da minha série <i>Ruína</i>, onde procuro imagens na internet de edifícios em escombros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">L.N.</span></b><i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"> </span></i><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">: Interessa-me re-contextualizar a obra de arte, recuperando directrizes que aproximam as artes visuais à arqueologia, a interpretação de um artefacto/peça está, invariavelmente relacionado com os significados que conseguimos encontrar, através da dissecação das camadas que os sustentam. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">M.C.</span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"> : O Luís Nobre é um artista que tem um trabalho que me parece muitas vezes citar o passado, criando espaços de confluências de fragmentos. O fragmento enquanto dispositivo é algo que me parece ser muito usado nas suas instalações. Se há um conceito de excelência no romantismo, é precisamente o de fragmento! O movimento romântico da transição do sec XVIII para o séc. XIX foi fascinado pelos vestígios e pelas ruínas do passado. Isso materializava-se depois numa revisitação ficcionada (o capricho), encenando, através da imaginação do artista, elementos do passado clássico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Ora, o que nós quisemos fazer aqui foi como que se fosse uma revisita ao passado, uma encenação, mas não uma cenografia, sob a forma de uma viagem. A procura de um possível local ou ponto de vista, no qual a pintura de Cristino da Silva em 1855 poderia ter sido feita. Uma espécie de <i>Grand Tour</i> a uma escala suburbana...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: xx-small;">Extracto da entrevista realizada por Teresa Rutkowski, coordenadora </span><span style="font-size: 11.111111640930176px;">pedagógica</span><span style="font-size: xx-small;"> do Nextart, em Maio de 2013.</span></span></div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-18435713855990701702013-01-31T01:12:00.001-08:002013-01-31T01:16:40.829-08:00O Incorporar das Imagens - Horácio Borralho<br />
<h1 style="text-align: justify;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914242">Sinopse</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O principal objetivo deste ensaio
é fazer uma abordagem à obra de Martinho Costa, um artista plástico em início
de carreira acerca do qual ainda não há uma reflexão muito profunda. A partir
de certa altura, sensivelmente o fim do mestrado, Martinho Costa decide dar um
novo rumo ao seu trabalho. Passa de uma abstração influenciada pela escola de
Nova Iorque para uma linguagem figurativa de onde ressalta um olhar para o
passado em termos de tradição pictórica. A influência Impressionista é visível
nos seus óleos, assim como outras influências incontornáveis a nível da
figuração contemporânea: Gerhard Richter e Luc Tuymans. O processo de trabalho
de Martinho Costa será também um assunto abordado tentando perscrutar o seu
universo estético. Para este ensaio foi realizada uma entrevista ao artista e
foram também usados alguns escritos disponibilizados pelo próprio.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Como
tantos outros, Martinho Costa é um artista de uma geração emergente que
regressou à figuração, embora mediada pelo uso da fotografia. Martinho não
pretende copiar a fotografia transformando a pintura num mero sucedâneo
fotográfico, mas antes, apresenta uma marca pictórica pessoal de uma
expressividade invulgar, que faz com que a sua pintura nunca compita com o
modelo fotográfico usado.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Muitas
das escolhas feitas em relação aos assuntos tratados neste ensaio, foram-no com
o intuito de terem pontos convergentes com a minha pintura.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b>Palavras-chave</b>:
Figuração, Pintura, Imagem, expressividade, Contemporânea.</div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1>
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914243">Resumo Biográfico</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Martinho
Prazeres Costa nasceu em Fátima em 1977 de onde só saiu em 1996 para entrar na
Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Em 2003 conclui o Masters in Teoria y
Prática de las Artes Plásticas Contemporâneas na Universidad Complutense de
Madrid. Vive e trabalha atualmente em Lisboa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRT8BKbEzGeifToqN-AuUCT24KwCdp9lC2m4t5JCVKMT68MDjyLsedlHMT7ERRZN1_zKtgQYDNRLgdt6W0pQRY2RhvuIMTbEhbX4yxTh532oy_8zIx7M7CY0Hc5NmftkwUFy6XQ-8dZM0u/s1600/6-IMG_3031.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRT8BKbEzGeifToqN-AuUCT24KwCdp9lC2m4t5JCVKMT68MDjyLsedlHMT7ERRZN1_zKtgQYDNRLgdt6W0pQRY2RhvuIMTbEhbX4yxTh532oy_8zIx7M7CY0Hc5NmftkwUFy6XQ-8dZM0u/s320/6-IMG_3031.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: center;">
<span style="color: windowtext; font-size: x-small;">1</span><span style="color: windowtext; font-size: x-small;">- Martinho Costa numa das suas intervenções em espaço
público</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Martinho trabalha principalmente
em pintura e em vídeo/animação, tentando compreender como as imagens que nos
rodeiam podem ser incorporadas nestes meios de expressão. Propõem-se revisitar
os grandes temas clássicos da história da arte usando-os como reflexão para a
sua obra atual. Com isto não pretende estagnar no tempo mas sim transpor essas
temáticas para a atualidade. Martinho embora utilize o óleo nas suas pinturas,
com a carga histórica que esse meio encerra, também utiliza meios informáticos
no seu processo de trabalho como pesquisas no Google, redes sociais, utiliza
projetores para desenhar e muitas outras marcas do mundo contemporâneo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1 style="text-align: justify;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914244">Do
abstrato ao Figurativo</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
Martinho Costa é hoje um artista plástico assumidamente figurativo, mas
nem sempre assim foi. Durante a sua formação artística e nomeadamente nas suas
primeiras exposições como estudante<i>
“finalista”</i>, Martinho estava muito próximo da estética da <i>Escola de Nova Iorque<a href="file:///C:/Users/Martinho/Downloads/Martinho%20Costa%20trabalho_convertido%20(1).docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[1]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>
a qual tinha como principais expoentes Mark Rothko, Willem de Kooning, Adolph
Gottlieb, Barnett Newman, Archile Gorky e Jackson Pollock. Foi também bastante
influenciado nesta altura por Sean Scully.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO-XKIyawZKD1jv8EOV8Poyq_GFDmqdMzlBbNbHhCw1ssja3ZCUHzr63DI-6XhMWOxgik-VzlgKDp1T6HBts3ETI0lyIRRGoN3J8rv2HjsqEYPJNfQxn9bvOde1jih3b90TS7S1iiM8kot/s1600/mdf.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="247" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO-XKIyawZKD1jv8EOV8Poyq_GFDmqdMzlBbNbHhCw1ssja3ZCUHzr63DI-6XhMWOxgik-VzlgKDp1T6HBts3ETI0lyIRRGoN3J8rv2HjsqEYPJNfQxn9bvOde1jih3b90TS7S1iiM8kot/s320/mdf.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; page-break-after: avoid; text-align: center; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext; text-align: left;">2</span><span style="color: windowtext; text-align: left;">- Martinho Costa, <i>sem
título</i>, 2002, Acrílico sobre MDF.</span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; page-break-after: avoid; text-align: center; text-indent: 17.4pt;">
<span style="color: windowtext; text-align: left;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A partir de determinada altura Martinho Costa sente que o assunto se está
a esgotar. A essência escultural da pintura abstrata e a escassa componente de
elementos formais colocam esta abordagem estética próxima da rotura.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i>“…Era um trabalho muito estreito, que
eu autoimpus que fosse assim: estreito, tinha poucos elementos formais. Eram
campos monocromáticos que tinham muito a ver com escultura. Pensava muito a
parte das proporções, tinham uma</i> <i>espessura,
havia peças que eram assentes no chão. Eram trabalhos que iam pegar muito na
estética minimalista. Estava bastante interessado na Escola de Nova Iorque e
acabei por ficar um bocado cansado daquela linguagem. Em termos de processo de
trabalho aquilo acabou por se tornar um bocado repetitivo e apeteceu-me começar
a pensar em outros termos, a pensar mais na atualidade, nas imagens da
atualidade e acabei por aproveitar, quando saí da faculdade. Fui para Madrid,
fiz o mestrado e aí fiz tábua rasa do trabalho anterior e comecei tudo de novo.
Comecei por fazer as pinturas das cameras de videovigilância… foi assim uma
mudança…” </i>(Costa, 2012)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
As primeiras pinturas figurativas
datam de 2003 e quase de uma forma inconsciente Martinho Costa abordava uma das
grandes temáticas da arte contemporânea: as sociedades de controlo. Uma espécie
de panóptico de Foucault. O nome da série de pinturas que reproduz as imagens
das cameras de vigilância de tráfego chama-se <i>Camera 24.</i> Neste caso, Martinho Costa estava simplesmente fascinado
pelo tempo real e pelo não-acontecimento.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-TnGl-ZPv4uNsB6P0zNP2JGGGud0rGPa6OrretmRufBrzgEgIEtXgRwCWoiEilsEJA67jI0vnuvJkYThCnbpC1UvdJmiXqYb0aDTwYBCLGYMXBsqdnpfXoh3bQqGHctn58NQ58uBhvBNy/s1600/ponte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-TnGl-ZPv4uNsB6P0zNP2JGGGud0rGPa6OrretmRufBrzgEgIEtXgRwCWoiEilsEJA67jI0vnuvJkYThCnbpC1UvdJmiXqYb0aDTwYBCLGYMXBsqdnpfXoh3bQqGHctn58NQ58uBhvBNy/s320/ponte.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="page-break-after: avoid; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext;">3</span><span style="color: windowtext;">- A ponte de Londres, 2003 Óleo sobre MDF</span></span></div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1 style="text-align: justify;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914245">A
realidade mediada pela fotografia</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<i>“Qualquer imagem
bidimensional é passível de ser pintada.” </i>(Costa, 2012) </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
Esta é uma das bases do pensamento
estético de Martinho Costa, sendo que a fotografia é uma forma de obter uma
imagem bidimensional. Colocando a questão de um ponto de vista prático e
transportando-a para o processo de trabalho deste artista, poder-se-á dizer que
Martinho Costa apropria-se de imagens, na maioria das vezes, projeta-as num
suporte e seguidamente pinta-as a óleo, sem estudos prévios. As duas fontes
principais deste artista são: primeiro as <i>imagens
encontradas</i>, depois as <i>imagens
produzidas</i>, que são incomparavelmente em menor quantidade. As <i>imagens encontradas</i> são todas as imagens
que o artista encontra na <i>net,</i> nas
revistas, jornais, televisão etc. As imagens produzidas são aquelas que o
próprio artista fotografa mas sem a preocupação de as tornar fotografias
demasiado elaboradas. Podemos chamar-lhes mais “<i>snapshots</i>”, ou instantâneos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
Todo este processo de trabalho
levaria a que fosse criado uma espécie de arquivo de imagens, isto se
fizéssemos um paralelismo com a obra de <i>Gerhard
Richter<a href="file:///C:/Users/Martinho/Downloads/Martinho%20Costa%20trabalho_convertido%20(1).docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[2]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>
e o seu <i>Atlas<a href="file:///C:/Users/Martinho/Downloads/Martinho%20Costa%20trabalho_convertido%20(1).docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[3]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>
sendo que na obra de Martinho Costa a atuação é diferente. Martinho assume o
arquivo de imagens como um arquivo partilhado, ou pelo menos ao dispor de
todos. <br />
Ele cria pastas temporárias no seu computador que alimentam os seus ciclos de
pinturas e no final apaga-as e devolve-as ao fluxo contínuo das imagens.
Martinho não alimenta nenhuma ligação afetiva com as <i>imagens modelo,</i> as imagens mediadoras do <i>mundo real</i>. Por outro lado existe outro aspeto bastante importante
na obra deste artista: não pretende em momento algum competir com a fotografia,
afastando-se assim de qualquer ancoragem ao fotorrealismo e é também muito
cuidadoso quando <i>escolhe</i> imagens para
pintar: desconfia sempre de imagens “<i>bonitinhas”</i>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
Martinho Costa funciona quase sempre por séries de pinturas. Fascina-o os
grandes temas clássicos da arte: A ruina, a pintura histórica, mas sempre com a
intenção de as atualizar de as mostrar revistas, mas sempre abertas em termos
de uma certa narrativa. Martinho não pretende tomar partido nem ser moralista,
assume uma certa neutralidade. Interessa-lhe a linguagem da pintura: Matéria,
cor, pincelada, enquadramento… interessa-lhe aquilo que é a pele da pintura.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhED7uzcsx5xM78D-LiaRAXyyrsOSUR3xpAXlYhT8-mBPoE3cC0vY1SdZR0-EKzk1J8rLcXPmYWVJQM7IqKf-wOA5HKN-kpR15psUxNE3DECgHyUmPH7c3Wi1KwefwhB9DPXavaKJs0qGSp/s1600/StarfortWeb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhED7uzcsx5xM78D-LiaRAXyyrsOSUR3xpAXlYhT8-mBPoE3cC0vY1SdZR0-EKzk1J8rLcXPmYWVJQM7IqKf-wOA5HKN-kpR15psUxNE3DECgHyUmPH7c3Wi1KwefwhB9DPXavaKJs0qGSp/s320/StarfortWeb.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; page-break-after: avoid; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small; text-align: justify;"><span style="color: windowtext;">4</span></span><span style="color: windowtext; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">- <i>Starfort</i>,
2006, 113x150, óleo sobre MDF (5 partes). Pintura de cariz histórico de
Martinho Costa baseada em imagens de gráficos de jogos de computador</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvlwQimsmLGCbf_G4zUIftKaWJ0YM1-lowd-6_AMTkoX52wVCWxXd0SGXFHNMzlT8SdVKR-lOz2XXMZMr-QcNAEoctCGZy0h7q2X1yY_6b-3SgaDWewFNmV_kAaATvbU-BjbU7c2_MFAEf/s1600/Capricho-55.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvlwQimsmLGCbf_G4zUIftKaWJ0YM1-lowd-6_AMTkoX52wVCWxXd0SGXFHNMzlT8SdVKR-lOz2XXMZMr-QcNAEoctCGZy0h7q2X1yY_6b-3SgaDWewFNmV_kAaATvbU-BjbU7c2_MFAEf/s320/Capricho-55.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="page-break-after: avoid; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext;">5</span><span style="color: windowtext;">-<i>Capricho 55</i>,
inspirado nos caprichos de Goya</span></span></div>
<b><span style="color: #365f91; font-family: Cambria; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" />
</span></b>
<br />
<h1 style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"> <a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914246">“O diário de <i>Robert Stern”.</i></a></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<i>“O diário de Robert Stern”</i> é o título de uma série de 95 obras de
Martinho Costa que daria título a uma das últimas exposições deste artista na
galeria 111.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
Este ciclo de pinturas, também
existem desenhos e vídeos de animação, datadas de 2011 reveste-se de particular
interesse pois levanta questões éticas a vários níveis. Por um lado revela o
artista enquanto <i>voyeur,</i> alguém que
não pretende tomar partido, que apenas se limita a observar de uma maneira
neutral, por outro lado mostra Robert Stern, uma pessoa real que vive na
Pensilvânia e que tem como obsessão fotografar os acontecimentos da sua vida,
desde os mais banais aos mais especiais. Fotografa Amber, a sua namorada de uma
forma sistemática e os seus amigos, os seus animais de estimação e deposita
tudo isso no <i>Flickr</i>, chegando a
atingir a soma de 15 000 imagens e vídeos pessoais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
Martinho Costa construiu uma
narrativa acerca da vida desta personagem real que expõe a sua vida como se de
um <i>big brother</i> se tratasse.
Provavelmente Robert Stern não sabe que é uma personagem central de um <i>documentário pintado,</i> montado por um
artista plástico.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirB9rgjF0IKw7H3j9VkoyehxUxVPESvMTDrGo2OzV1ffrxIUiuJmppvUYOIK5U2UddxATXKofjWJTkwasn4FMV8dup29TnVtKfO1Z31-msEltXf4XgBCNf93ZCT6fSxyirfC4vDb7DHXgD/s1600/Amber-II-29x30.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirB9rgjF0IKw7H3j9VkoyehxUxVPESvMTDrGo2OzV1ffrxIUiuJmppvUYOIK5U2UddxATXKofjWJTkwasn4FMV8dup29TnVtKfO1Z31-msEltXf4XgBCNf93ZCT6fSxyirfC4vDb7DHXgD/s200/Amber-II-29x30.jpg" style="cursor: move;" width="200" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0OgXycrSujmkUgZwLVEEWqci_I4JYKfx_-KYpQwBiJjFTl2EgMaakFrz47spGUKUPIV0TjOyUdRUeU-kLUq1UjdiHyOzD6xBfOdek26OEZDaGiqDgTxk8f23CAh1T7k2Gc2hrE9UElXvF/s1600/Amber-III-20,5x19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0OgXycrSujmkUgZwLVEEWqci_I4JYKfx_-KYpQwBiJjFTl2EgMaakFrz47spGUKUPIV0TjOyUdRUeU-kLUq1UjdiHyOzD6xBfOdek26OEZDaGiqDgTxk8f23CAh1T7k2Gc2hrE9UElXvF/s200/Amber-III-20,5x19.jpg" width="182" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLsO7OeipWAyOG_p9X9rWCaLX79hioNeVv9Appr_sVoZuJ2C4_13pPQUL3bsuKDXP1LEBJj2ghjgTYy5pcFFBiaPsUGK66cbYIVvpdOfLPHVoOobvSex85tjHzeZbIkdmRJN_cr4I0ir_K/s1600/Amber-no-parque-33x47.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="140" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLsO7OeipWAyOG_p9X9rWCaLX79hioNeVv9Appr_sVoZuJ2C4_13pPQUL3bsuKDXP1LEBJj2ghjgTYy5pcFFBiaPsUGK66cbYIVvpdOfLPHVoOobvSex85tjHzeZbIkdmRJN_cr4I0ir_K/s200/Amber-no-parque-33x47.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: center; text-indent: 18.0pt;">
</div>
<div align="center" class="MsoCaption" style="text-align: center;">
<span style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoCaption" style="text-align: center;">
<span style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoCaption" style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext;">6</span><span style="color: windowtext;">- Três pinturas de Amber, a namorada de Robert Stern</span></span></div>
<div align="center" class="MsoCaption" style="text-align: center;">
<span style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Se
analisarmos estas pinturas do ponto de vista formal podemos constatar que a
aplicação da tinta, pincelada grossa e imediata sugere-nos que a sua execução é
rápida muito à imagem dos impressionistas. A sua pintura adquire a dimensão de
instantâneo mas pictórico com uma expressividade que não se encontra no
instantâneo fotográfico: é assim o trabalho de Martinho Costa, rápido, olhando
as imagens que utiliza para pintar como se fossem descartáveis e ele fosse o “<i>flaneur</i>” que entre elas deambula.</div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1 style="text-align: justify;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914247">Diálogos
com o espaço exterior</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Neste
capítulo apresentar-se-á uma nova variante no trabalho de Martinho Costa
iniciada em 2011.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Sentindo uma certa necessidade em fazer
circular trabalhos e de os retirar de dentro do seu espaço de trabalho, o
artista sente-se tentado a pintar no espaço exterior e inicia aqui uma série de
pinturas em espaços públicos tentando com elas dialogar com a envolvente
espacial. Este procedimento poderia levar-nos a confundir estas intervenções
com <i>graffiti</i>, mas neste caso como
assume o próprio artista a realidade é outra.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i>“Eu sou um pintor e também faço desenhos
animados. Também fiz um documentário, portanto, não sou um graffiter (…) Os
graffiters tem muitas vezes uma atitude de impor uma moral às pessoas que me
irrita um bocado (…) ok, é a coisa deles, mas eu vejo isto como intervenções ao
ar livre. Pinturas que eu deixo a óleo. Muitas, a grande maioria pintadas no
local, outras são pintadas no atelier e deixadas no local e ficam lá e o que eu
faço com essas pinturas é dialogar com o local… </i>(Costa, 2012)<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtPR03rkHHtfq5V5sO_xZz2L26RI7-dWdFTVZv0hTa4AeTZ2hQNz3jBN0e3eqzbZS-D259nCgygMrvO1sr67jrB1GxyEq0W0n2zcQS7SQk-Uoi03mA9xoy-QwKt0gQIHfmsMXaqWROiE_Z/s1600/poste+boleiros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="104" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtPR03rkHHtfq5V5sO_xZz2L26RI7-dWdFTVZv0hTa4AeTZ2hQNz3jBN0e3eqzbZS-D259nCgygMrvO1sr67jrB1GxyEq0W0n2zcQS7SQk-Uoi03mA9xoy-QwKt0gQIHfmsMXaqWROiE_Z/s320/poste+boleiros.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0036_862131668_67c9446294.jpg" o:spid="_x0000_i1034"
type="#_x0000_t75" style='width:390.75pt;height:128.25pt;visibility:visible'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Martinho\AppData\Local\Temp\msohtml1\01\clip_image018.jpg"
o:title=""/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--> <span style="font-size: x-small; text-align: center;"><span style="color: windowtext;">7</span></span><span style="color: windowtext; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">-Pintura a óleo sobre base de poste de alta tensão,
feita em Boleiros numa zona de serra.</span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Martinho Costa assume que nestes
casos a pesquisa de imagens é menos aleatória. A busca de imagens é
direcionada, pois a intenção é haver um diálogo com o local. Também verificou
que ao travar estes diálogos surgiam mais vezes pintadas imagens ligadas à
história da arte, normalmente todas de pequenas dimensões e com um caracter
intimista. Martinho está interessado também no aspeto efémero das suas obras e
por vezes, ou quase sempre, no acesso às suas obras. Nem sempre estão em locais
acessíveis. Não se encontram ali ao virar da esquina!</div>
<h1>
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914248">A Pedreira e a
Memória</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>A pedreira</i> é uma das pinturas de
Martinho Costa que pertence a um ciclo de obras intitulado: “<i>A primeira pedra”</i>, um tema proveniente
da iconografia bíblica. Na bíblia este tema surge ligado a um apedrejamento, um
ato bárbaro situado ao nível do primitivo. A barbárie assim vista é uma espécie
de ruína pré civilizacional, que por vezes pode emergir e impor-se à razão. É
algo que está também impresso na memória de Martinho Costa, muito para além da
metáfora da ruína. Estas imagens fazem parte da infância de Martinho Costa que
as visitava vezes sem conta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglQybxA3ATcdtDSzLgNGipxrhpwtqXwGw-DoBKNZ0fS-rq3YxoUEEMe16-G1hUQFKzIRAAzsFxZErf8LIKaB_ddX4IzppYxWRjNfHXIWbvFxsGrV-HpS6x6Sg8TszPjUOzNCL_WvjbATDc/s1600/DSC_5181-pedreira%231-80x120.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglQybxA3ATcdtDSzLgNGipxrhpwtqXwGw-DoBKNZ0fS-rq3YxoUEEMe16-G1hUQFKzIRAAzsFxZErf8LIKaB_ddX4IzppYxWRjNfHXIWbvFxsGrV-HpS6x6Sg8TszPjUOzNCL_WvjbATDc/s320/DSC_5181-pedreira%231-80x120.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="page-break-after: avoid; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext;">8</span></span><span style="color: windowtext;"><span style="font-size: x-small;">-Pedreira 1, óleo sobre MDF, 120X80 cm 2012</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Na atualidade, o
artista utiliza essas ruinas como matéria da memória. Fotografadas no presente,
elas são reconstruidas no suporte da pintura talvez como quem recorda o passado
ou simplesmente as transforma em objetos estéticos. Existem nestas imagens
sintomas de um romantismo que remete para <i>Friedrich</i>
e para a fragilidade da vida humana. Remete também para o religioso, qual “<i>Gólgota”</i> de <i>Andrea</i> <i>Mantegna</i>. Muitos
preferem apenas chamar-lhe espiritual, talvez Martinho Costa prefira que lhe
chame assim.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Nos dias que correm,
o ser pintor implica uma certa espiritualidade, uma espécie de fé ou crença.
Implica também ser perseverante e inabalável nas convicções que são muito
diferentes de ideologias. Como Martinho Costa, é necessário voltar à pedreira e
encontrar os destroços da memória para que com esses destroços se construa uma
“<i>outra coisa”</i> como referia Walter
Benjamin.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;">
<!--[if gte vml 1]><v:shape id="pedreira2.jpg" o:spid="_x0000_i1036"
type="#_x0000_t75" style='width:420pt;height:277.5pt;visibility:visible'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Martinho\AppData\Local\Temp\msohtml1\01\clip_image022.jpg"
o:title=""/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZyV83u7vfE62lbEEGLwF5iOBT7Zofxj1dZ0kgjIH0-vnxoiejU8OR6yBviBizZwiKXXrmoR3Vzzk0j7PUmBN_tSeSHUp9gpXHwjPhDT0WH3jbc-jAR2t_D3-QAvTMqnvviTmLb2RsBJ71/s1600/DSC_4959-pedreira-80x120.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZyV83u7vfE62lbEEGLwF5iOBT7Zofxj1dZ0kgjIH0-vnxoiejU8OR6yBviBizZwiKXXrmoR3Vzzk0j7PUmBN_tSeSHUp9gpXHwjPhDT0WH3jbc-jAR2t_D3-QAvTMqnvviTmLb2RsBJ71/s320/DSC_4959-pedreira-80x120.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoCaption" style="text-align: center;">
<!--[if supportFields]><span
style='color:windowtext'><span style='mso-element:field-begin'></span><span
style='mso-spacerun:yes'> </span>SEQ Ilustração \* ARABIC <span
style='mso-element:field-separator'></span></span><![endif]--><span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext;">9</span><!--[if supportFields]><span
style='color:windowtext'><span style='mso-element:field-end'></span></span><![endif]--></span><span style="color: windowtext;"><span style="font-size: x-small;">-Pedreira 2 óleo sobre MDF, 120X80cm 2012</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1>
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914249">Paralelismos</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Chegado a esta altura do ensaio
achei pertinente apresentar pontos de contacto entre pensamentos estéticos e
respetivas obras. Tal como Martinho Costa também me inscrevo numa linhagem de
pensamento herdeira da estética <i>Richteriana</i>,
que utiliza a imagem bidimensional como mediadora da realidade. Gerhard Richter
afirma a possibilidade da pintura que se renova constantemente, nem que para
isso tenha que se fazer <i>tabla rasa</i>
dessa mesma pintura. Martinho Costa afirma a pintura dando prioridade ao
pictórico e à plasticidade mesmo que o modelo das suas obras sejam fotografias
com motivos banais. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpBGwBVlgnbNseIW1chTK4wj5xMydPfDAGgYsQByAxTGkpv2g7JDdQvW-Ae-UZ_FCL97OJ8Sl3pqMQUzPhPBr-KioWlOiTm5Bc3QpC5qK1uuWFk058cQfNJJx-_SXPbRzzpMlhZU937tiy/s1600/horacio+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpBGwBVlgnbNseIW1chTK4wj5xMydPfDAGgYsQByAxTGkpv2g7JDdQvW-Ae-UZ_FCL97OJ8Sl3pqMQUzPhPBr-KioWlOiTm5Bc3QpC5qK1uuWFk058cQfNJJx-_SXPbRzzpMlhZU937tiy/s320/horacio+1.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<!--[if gte vml 1]><o:wrapblock><v:shape
id="IMG.jpg" o:spid="_x0000_s1026" type="#_x0000_t75" style='position:absolute;
left:0;text-align:left;margin-left:90.45pt;margin-top:.1pt;width:244.05pt;
height:139.45pt;z-index:1;visibility:visible'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Martinho\AppData\Local\Temp\msohtml1\01\clip_image024.jpg"
o:title=""/>
<w:wrap type="topAndBottom"/>
</v:shape><v:shapetype id="_x0000_t202" coordsize="21600,21600" o:spt="202"
path="m,l,21600r21600,l21600,xe">
<v:stroke joinstyle="miter"/>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect"/>
</v:shapetype><v:shape id="_x0000_s1027" type="#_x0000_t202" style='position:absolute;
left:0;text-align:left;margin-left:90.45pt;margin-top:144.05pt;width:252.75pt;
height:20.25pt;z-index:2' stroked="f">
<v:textbox style='mso-next-textbox:#_x0000_s1027;mso-fit-shape-to-text:t'
inset="0,0,0,0">
<![if !mso]>
<table cellpadding=0 cellspacing=0 width="100%">
<tr>
<td><![endif]>
<div>
<p class=MsoCaption>
<![if supportFields]><span style='color:windowtext;
mso-no-proof:yes'><span style='mso-element:field-begin'></span><span
style='mso-spacerun:yes'> </span>SEQ Ilustração \* ARABIC <span
style='mso-element:field-separator'></span></span><![endif]><span
style='color:windowtext;mso-no-proof:yes'>10</span><![if supportFields]><span
style='color:windowtext;mso-no-proof:yes'><span style='mso-element:field-end'></span></span><![endif]><span
style='color:windowtext'>-Horácio Borralho <i style='mso-bidi-font-style:
normal'>Nosferatu Danois</i>, óleo s/MDF, 28X16 cm 2012</span><span
style='font-size:12.0pt;mso-bidi-font-size:9.0pt;color:windowtext;
mso-no-proof:yes'><o:p></o:p></span></p>
</div>
<![if !mso]></td>
</tr>
</table>
<![endif]></v:textbox>
<w:wrap type="topAndBottom"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]-->
<br />
<table align="left" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody>
<tr>
<td height="0" width="121"></td>
</tr>
<tr>
<td></td>
<td><br /></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="MsoCaption">
<div style="text-align: center;">
<span style="color: windowtext; font-size: x-small;">10</span><span style="color: windowtext; font-size: x-small;">-Horácio Borralho <i>Nosferatu
Danois</i>, óleo s/MDF, 28X16 cm 2012</span></div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1gg2g1PFQfxVS6A22tZVR90HgNea7sAo6K1FzBRpizmieBoSjqdfdoEFk7H_Hy2rPGl5aS5-PLDhGeop5fGbDidKNxYA2-eDe4kUx-OQG2vsrgw7ig8NiY7qGrwKDRZg0V59vpMTM9urB/s1600/horacio+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1gg2g1PFQfxVS6A22tZVR90HgNea7sAo6K1FzBRpizmieBoSjqdfdoEFk7H_Hy2rPGl5aS5-PLDhGeop5fGbDidKNxYA2-eDe4kUx-OQG2vsrgw7ig8NiY7qGrwKDRZg0V59vpMTM9urB/s320/horacio+2.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; page-break-after: avoid; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: windowtext;">11</span></span><span style="color: windowtext;"><span style="font-size: x-small;">-Horácio Borralho, <i>Deserto
Peixe</i>, óleo s/MDF, 28X16 cm, 2012</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Comparativamente, nas minhas obras, também elas feitas tendo como modelo
imagens na sua grande maioria apropriadas, exploro a tensão existente entre
elas. Como Eisenstein, produzo montagens de imagens que podem causar estranheza
e choque nas suas associações. Estas produzem cortes nas suas narrativas que
podem conduzir a uma tentativa do espectador de criar uma imagem mental a partir
de duas ou mais associações de imagens. Em última análise, interessa-me o
pictórico e o aspeto feito à mão nas minhas pinturas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1>
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914250">Conclusão</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Foi
aqui apresentada uma reflexão acerca da obra de Martinho Costa desde os seus
tempos de estudante em que a abstração era a sua linguagem estética até aos
dias de hoje, altura em que Matinho Costa consolida a sua faceta de artista
figurativo que trabalha recorrendo a imagens fotográficas muitas vezes
apropriadas de várias fontes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Foi
também aqui aflorado qual o interesse de Martinho Costa nas imagens
fotográficas e também no tipo de imagens lhe interessa: aquelas que ainda não
estão muito resolvidas enquanto imagens, aquelas que são banais, como as que
Robert Stern publica no<i> Flickr</i>.
Martinho interessa-se pela plasticidade da sua pintura, pretendendo construir
algo de estético partindo de imagens banais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Abordou-se
também o diálogo que Martinho Costa trava com locais encontrados quase ao
acaso, muitos deles em zonas recônditas e de difícil acesso, demonstrando que é
sempre possível pintar mesmo quando a obra é efémera.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
No
capítulo: <i>A</i> <i>Pedreira e a Memória</i>, explora-se uma vertente mais poética e
intimista expressando o conhecimento de Martinho Costa a um nível mais
restrito, quase familiar. Por fim, foram apresentados alguns paralelismos entre
a obra de Martinho Costa com a de Gerhard Richter, uma referência comum, e a
minha obra de pintura: a crença na prática da pintura e a utilização de imagens
bidimensionais como modelo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Martinho
Costa é um artista em maturação que trabalha incansavelmente e por isso a sua
obra é consistente. É um dos artistas que utiliza a pintura como principal meio
de expressão mais promissores da sua geração.</div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1>
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914251">Agradecimentos</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quero
agradecer a Martinho Costa a disponibilidade que demonstrou durante a
realização deste ensaio. Na realização da entrevista, no disponibilizar de
algumas imagens de obras antigas, mostrando-se sempre disponível para conversar
e esclarecer algumas questões que fossem surgindo no decorrer do trabalho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Calibri; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h1>
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5628104001530223784" name="_Toc344914252">Bibliografia</a><span style="color: windowtext;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="Bibliography">
Costa, M., 2012. <i>Entrevista
com Martinho Costa </i>[Entrevista] (23 novembro 2012).<o:p></o:p></div>
<div class="Bibliography">
Facultad de Bellas Artes
Universidad Complutense de Madrid Departamento de Pintura, 2003. In: <i>Máster
en teoria y prática de las artes plásticas contemporáneas 03. </i>Madrid:
FELSAN, Realizaciones gráficas, pp. 118-121.<o:p></o:p></div>
<div class="Bibliography">
OPWAY, 2009. <i>Martinho
Costa- Reconstrução. </i>OPWAY ed. Lisboa(Lisboa): s.n.<o:p></o:p></div>
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Martinho/Downloads/Martinho%20Costa%20trabalho_convertido%20(1).docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Escola de Nova Iorque- Entre os anos 40 e 50 do séc. XX existiu uma corrente na
América também conhecida como Expressionismo abstrato ligada ao crítico de arte
Clement Greenberg e que derivava das Vanguardas Europeias. Dentro desta
corrente havia o grupo descendente de Picasso e outro que se revia na cor de
Matisse.</div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Martinho/Downloads/Martinho%20Costa%20trabalho_convertido%20(1).docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Gerhard Richter, Artista plástico alemão nascido em Dresden em 1932</div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Martinho/Downloads/Martinho%20Costa%20trabalho_convertido%20(1).docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Atlas, Uma compilação de fotografias, estudos e maquetes que o artista Gerhard
Richter foi acumulando durantes décadas e que agora se converteu em objeto de
arte sendo ciclicamente exposta em museus.</div>
</div>
</div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-13925687636505139212012-10-24T00:37:00.000-07:002012-10-24T00:37:07.485-07:00Thumbnails<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>Thumbnails</i> é uma exposição dividida em duas
partes: na Galeria Who, e no Laboratório Galeria em Lisboa. O título remete
para a forma de visualização de arquivos de imagens digitais no computador.
Este modo de visualização “em miniatura”, permite que vejamos um arquivo
extenso de uma forma rápida. Sendo que normalmente não exista uma ordem, ou uma
lógica narrativa pré-determinada a este amontoado de imagens acumuladas em
pastas de computador. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Na parede principal
da Galeria WHO, vai ser exposto um grande arquivo de imagens pintadas. Todas as
pinturas, têm igual dimensão e serão dispostas numa sequência regular. São 50
pinturas feitas sobre a superfície de tijolos cerâmicos de 20x30x7cm usados na
construção de paredes. Um grande arquivo de fotografias tiradas por mim no
local, ao longo de sucessivas deslocações à cidade do Barreiro, está na base
deste conjunto de trabalhos. Cada pintura é um fragmento que somado compõe um
todo: uma panorâmica que sobrevoa a paisagem do Barreiro tal como a fui
encontrando entre 2011 e 2012. O meu interesse pela cidade, particularmente
pelo que resta hoje da sua zona industrial pesada, a antiga CUF (Companhia
União Fabril), resultou do visionamento na televisão do documentário “Saudades
da Fábrica” sobre o assunto.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O Barreiro, é
uma cidade industrial situada em frente de Lisboa tendo sido em 1906 o local
estratégico escolhido para a implementação da Companhia União Fabril. Mais
tarde, e beneficiando dos recursos naturais que vinham das ex-colónias,
tornou-se um complexo industrial integrado dos mais importantes da Europa e do
Mundo. Com a queda do regime fascista em 1974, assistiu-se à sua nacionalização
que resultou na implosão e fragmentação deste núcleo. A partir daí e fruto
também de uma globalização imparável, o Barreiro enquanto cidade industrial tem
vindo a morrer e a transformar-se numa zona cuja a tipologia é difícil de
definir. Podemos assistir hoje a este processo de metamorfose silenciosa.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
A 50ª pintura
ausente do arquivo exposto na WHO, sofreu um processo diferente. Será exposta uma
semana mais tarde no Laboratório Galeria. Esta pintura tem uma história específica,
que foi devidamente registada em vídeo no documentário: “Vou Viver – História
de Uma Pintura”. Será projectado no último dia das exposições, a 3 de Novembro,
encerrando assim este <i>retrato</i> sobre
uma ruína viva, com uma mensagem de esperança.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>Thumbnails</i> é mais do que uma exposição
sobre o Barreiro. É uma alegoria presente de uma transformação: a passagem de
um paradigma modernista de uma crença absoluta na técnica e no funcionalismo,
para uma paisagem nova. Um espaço híbrido, onde convivem fragmentos do passado
com signos do presente. Um local onde é ainda possível encontrar ao lado de
centros comerciais e estações modernas de lavagem de automóveis, ruínas de
caldeiras e detritos metálicos pesados.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><span lang="EN-GB">Thumbnails</span></i><span lang="EN-GB"> is an exhibition in two parts: one
in the Who Gallery, another in the Laboratory Gallery in <st1:place w:st="on"><st1:city w:st="on">Lisbon</st1:city></st1:place>. The title refers to a way of viewing
digital image files on the computer. This view mode in small size, allows us to
see a large file folder in a fast way. Since that a predetermined narrative
logic doesn’t exist in this kind of jumble of images accumulated in computer
folders.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="EN-GB"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">On the main wall of the WHO gallery,
will be exposed a large archive of painted images. All paintings have equal
size and are arranged in a regular sequence. Are 50 paintings made on the
surface of clay bricks of 20x30x7cm used in construction. A huge archive of
photographs taken by me on the spot, over successive trips to the city of <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">Barreiro</st1:place></st1:city>, is the basis of
this body of work. Each painting is a fragment which complements a totality: an
overview of the landscape of <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">Barreiro</st1:place></st1:city>
has I founded it between 2011 and 2012. My interest in the city, particularly
by what remains today of its heavy industrial zone, the former CUF (Union
Manufacturing Company), resulted in the television viewing of the documentary
"Saudades da Fábrica", on the subject.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="EN-GB"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="EN-GB"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">The <st1:city w:st="on">Barreiro</st1:city>,
is an industrial city located in front of <st1:place w:st="on"><st1:city w:st="on">Lisbon</st1:city></st1:place>.
In 1906 was the site chosen for the strategic implementation of the <i>Companhia União Fabril</i>. Later benefiting
from the natural resources coming from former colonies, became an integrated
industrial complex. Was one of the most important in <st1:place w:st="on">Europe</st1:place>
and in the World at the time. With his nationalization subsequent of the fall
of the fascist regime in <st1:place w:st="on"><st1:country -region="-region" w:st="on">Portugal</st1:country></st1:place>
in 1974, resulted in the implosion and fragmentation of this core. Since then,
and result also of an unstoppable globalization, <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">Barreiro</st1:place></st1:city> while an industrial city, has been
dying and turning into an area whose typology is difficult to define. We can
watch now this process of silent metamorphosis.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="EN-GB"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">The 50th painting missing from the
archive exposed at WHO, suffered a different process. Will be exposed a week
later at the Laboratory Gallery. This painting has a specific history, which
was duly recorded on video in the documentary: "Vou Viver – História de
Uma Pintura." It will be screened on the last day of the exhibitions, on
November 3. Ending this <i>portrait </i>on a living ruin, with a
message of hope.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><span lang="EN-GB">Thumbnails</span></i><span lang="EN-GB">
is more than an exhibition about <st1:place w:st="on"><st1:city w:st="on">Barreiro</st1:city></st1:place>.
It is an allegory of a transformation: the passage of a modernist paradigm of
an absolute belief in technique and functionalism to a new landscape. A hybrid
space in which fragments of the past coexist with signs of the present. An
urban area where you can still find next to shopping malls and modern car wash
stations, ruins of boilers and heavy metal scrap.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="color: #444444; font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Martinho Costa</span></div>
<br />
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-66686726214872273802012-10-18T01:30:00.003-07:002012-10-18T01:30:21.036-07:00A Primeira Pedra<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt;">“Quem de
vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!”<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt;">Evangelho Segundo João - capítulo 8 v3,11</span><span style="font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11.0pt;">O título desta exposição é
inspirado na célebre passagem da Bíblia. Este episódio funciona como uma
metáfora, procurando demonstrar um conjunto de valores que servem uma crença
religiosa. Para este trabalho, interessou-me a forma como esta passagem
descreve um ato violento, inato ao ser humano, que o constitui como ser,
independentemente da sua crença religiosa. Atirar uma pedra a outrem, será
porventura o ato mais primário e universal que um ser humano tem para expressar
a sua revolta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11.0pt;">Arremessar uma pedra na rua,
é um gesto que vemos quotidianamente ampliado nas imagens dos telejornais,
sempre que existe uma manifestação em qualquer ponto do mundo. Numa Era como a
nossa com uma sofisticação tecnológica imparável, uma pedra é ainda um objeto
que está sempre disponível, pronto a ser disparado. Mas esta é também a Era da
informação planetária e os movimentos sociais de contestação estão hoje
baseados na internet e nas redes sociais. A comunicação é rápida, gerando
efeitos imediatos a uma escala global, sem precedentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11.0pt;">Os trabalhos em pintura e
vídeo reunidos nesta exposição foram feitos sob a ideia de como o poder se
materializa e é contestado. Contudo, <i>A
Primeira Pedra</i> tem uma pretensão ensaística e analítica e não moral ou
ética. Não pretendemos indicar um caminho ou privilegiar qualquer forma de
conduta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11.0pt;">A exposição é composta por
uma pintura em grandes dimensões feita em papel (56 folhas de papel) que
representa um enorme penedo. Essa representação em pintura foi depois submetida
a um intenso apedrejamento. A ação, gravada em vídeo e exposta na galeria, ocorreu
na zona da Serra de Aire, local atualmente objeto de uma intensiva atividade de
extração de pedra calcária. Um dos locais onde se manufaturam as pedras da
calçada que vemos nos passeios lisboetas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11.0pt;">Justamente, o apedrejamento
foi feito com 56 pedras da calçada que fui encontrando nas ruas de Lisboa.
Estas pedras soltas, fora da comunidade das outras pedras, foram trazidas para
o ateliê, lavadas e preparadas. Foram fotografadas. Esse “retrato” individual
de cada pedra foi depois pintado a óleo numa das suas faces. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11.0pt;">São mostradas ainda outras
duas pinturas. São paisagens de pedreiras. Estas pinturas documentam a extração
de pedras que ocorre atualmente. A exposição termina com uma pintura que
procura fazer a síntese da exposição: um fragmento de parede, no qual está
pintada toda a <i>mise-en-scène</i> da ação
do vídeo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 11.0pt;">A Primeira Pedra</span></i><span style="font-size: 11.0pt;"> é pois uma exposição de destroços. As obras apresentadas são o
resultado de um processo de embate violento, são o registo desse embate, e a
documentação em pintura de paisagem dos locais de onde provém as personagens
desta ficção. Estas personagens mostram-se na Galeria Má Arte, apresentam as
mazelas naturais de uma ação agressiva. Mas no final é a imagem que prevalece:
o penedo continua a poder ser visto nas 56 folhas de papel embora golpeadas e
amachucadas, e as pedras da calçada com as mazelas naturais de um embate, estão
outra vez alinhadas no chão, prontas a voltarem a ser disparadas. E a história
pode voltar a repetir-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10.0pt;">Martinho Costa<o:p></o:p></span></div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-85650158947154666032012-06-09T01:00:00.001-07:002012-06-09T01:00:31.440-07:00Texto - Artecapital - Maria Beatriz Marquilhas<br />
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="mso-cellspacing: 0cm; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; width: 100.0%;">
<tbody>
<tr>
<td style="padding: 0cm 0cm 0cm 0cm;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Martinho Costa (Fátima, 1977) tem vindo a desenvolver o seu
trabalho artístico numa constante pesquisa pictórica e conceptual através da
recolha de imagens que proliferam na internet. O seu mais recente projecto,
sob o título<span class="apple-converted-space"> </span><i>O Diário de
Robert Stern</i>, pode ser actualmente visitado na Galeria 111. O nome dado à
exposição não pretende aqui aludir metaforicamente a um sentido abstracto,
uma vez que se trata realmente do registo diário de um homem real, Robert
Stern, que vive em Quakertown, Pensilvânia, E.U.A., onde fotografa o seu
quotidiano, publicando posteriormente as imagens captadas no seu<span class="apple-converted-space"> </span><i>flickr</i>.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
Uma série de pinturas confere uma representação pictórica a momentos do
quotidiano do protagonista e daqueles que o rodeiam. Através de uma
multiplicidade de detalhes referenciais localizamos temporalmente os
episódios representados no Presente: telemóveis, máquinas fotográficas, as
roupas e toda a ambiência que rodeia as personagens da vida de Robert Stern.
A exposição corresponde assim a uma viagem aos meandros da memória e do
registo documental da vida de um homem comum. As personagens repetem-se,
estabelecemos uma relação com elas, extraímos o seu carácter e comportamento
perante o olhar de Robert Stern. Os episódios são captados sem artifícios, e
os momentos são apreendidos com naturalidade: uma festa de<span class="apple-converted-space"> </span><i>halloween</i>, um passeio pelo
parque, um serão em casa com amigos, um passeio num dia de neve, a namorada
Amber, exaustivamente fotografada, os cães de Robert, uma aula de dança, uma
ida à praia, uma festa de Carnaval, uma caminhada pelos bosques.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
<br />
<b>I. A obra de Arte enquanto registo</b><span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
A História da Arte constitui uma história da representação humana, e como
tal, um registo da existência humana desde os seus primórdios. No entanto, é
com o advento do fotográfico que surge de um modo clarividente uma abordagem
artística correspondente a uma intenção de registo documental, de acumulação
e constituição de uma memória colectiva ou individual pela via imagética.
Partindo precisamente de imagens fotográficas, Martinho Costa, com<span class="apple-converted-space"> </span><i>O Diário de Robert Stern</i>,
questiona a exclusividade do fotográfico enquanto dispositivo de registo,
utilizando a pintura de um modo documental. No entanto, o artista não o faz
(re)pisando o caminho do realismo fotográfico na pintura. Pelo contrário, o
realismo das suas pinturas encontra-se não no estilo pictórico mas na
intenção conceptual que delas emerge.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
A exposição de Martinho Costa representa indubitavelmente uma unidade
documental em pintura, desenho e um vídeo em animação. O artista parece ser
aqui um<span class="apple-converted-space"> </span><i>voyer</i><span class="apple-converted-space"> </span>que, navegando entre imagens
virtuais, expõe a privacidade de uma identidade aparentemente revestida sob o
anonimato, mas que expõe pequenos detalhes imagéticos da sua vida íntima no
espaço público, através da internet, o que nos leva a uma reflexão em torno
das redes sociais que habitam a contemporaneidade, e do modo como estas
promovem uma constante reavaliação dos conceitos de privado e público, bem
como dos limites entre ambos e do modo como se contaminam.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
<br />
<b>II. Expressionismo fotográfico</b><span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
As pinturas, ainda que procurem constituir uma representação realista da
existência, são marcadas por pinceladas soltas que nos remetem para um estilo
que se aproxima de um expressionismo pictórico. Este aspecto é talvez o que
de mais contraditório encontramos neste trabalho de Martinho Costa:
observamos as imagens, extraindo a intenção do autor de que elas sejam vistas
enquanto fotografias, conseguimos ver a sombra de um suposto “fotógrafo”,
algumas delas são marcadas pelo flash, e em todas elas está presente a marca
da representação fotográfica, a captação de um momento irrepetível, com todas
as pequenas falhas que a espontaneidade pode conter em si. A realidade
captada a pincel, contrariando o realismo pictórico enquanto registo documental
da existência. Martinho Costa inverte as tendências, partindo do realismo
fotográfico para a pintura de cariz expressionista, mantendo, no entanto, o
carácter documental das imagens.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
Algumas das obras parecem desfocadas ou marcadas por manchas de luz, como na
pintura<span class="apple-converted-space"> </span><i>Flash</i>, o que por
momentos nos leva a questionar a origem fotográfica das imagens, pois que as
torna mais abstractas. No entanto, estas marcas vêm apenas reforçar o núcleo
conceptual da exposição, uma vez que constituem “falhas” de âmbito fotográfico.
Também em<span class="apple-converted-space"> </span><i>Estrelas</i>, uma
obra de grandes dimensões onde de um fundo negro podemos apenas destacar
pequenos pontos ou manchas claras, parecemos por momentos estar perante uma
obra abstracta, sem qualquer intenção além de representar exactamente o que
vemos, pequenos traços que povoam um rectângulo negro. No entanto, tal como
acontece em todas as outras obras, também esta parte de um registo
fotográfico, representando um céu estrelado que Robert Stern terá visto e
fotografado numa noite incerta da sua existência.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<br />
Martinho Costa, através de<span class="apple-converted-space"> </span><i>O
Diário de Robert Stern</i>, parte de imagens triviais para a criação de obras
de arte, promovendo um questionamento, ao atribuir à pintura uma
funcionalidade que, na generalidade, é atribuída ao dispositivo fotográfico -
a de registo documental, sem que, no entanto, a pintura abdique dos seus
ditames estéticos e técnicos. O traço a pincel concede às imagens de Robert
Stern, agora de Martinho Costa, uma plasticidade de que o fotográfico
documental está desprovido.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
<br />
<!--[if gte vml 1]><v:shapetype id="_x0000_t75" coordsize="21600,21600"
o:spt="75" o:preferrelative="t" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" filled="f"
stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter"/>
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"/>
<v:f eqn="sum @0 1 0"/>
<v:f eqn="sum 0 0 @1"/>
<v:f eqn="prod @2 1 2"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @0 0 1"/>
<v:f eqn="prod @6 1 2"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="sum @8 21600 0"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @10 21600 0"/>
</v:formulas>
<v:path o:extrusionok="f" gradientshapeok="t" o:connecttype="rect"/>
<o:lock v:ext="edit" aspectratio="t"/>
</v:shapetype><v:shape id="_x0000_i1025" type="#_x0000_t75" alt="" style='width:7.5pt;
height:15pt'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Martinho\AppData\Local\Temp\msohtml1\01\clip_image001.png"
o:href="http://www.artecapital.net/imagens/pixel.gif"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img height="20" src="file:///C:/Users/Martinho/AppData/Local/Temp/msohtml1/01/clip_image002.gif" v:shapes="_x0000_i1025" width="10" /><!--[endif]--><o:p></o:p></span></div>
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="mso-cellspacing: 0cm; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; width: 100.0%;">
<tbody>
<tr>
<td style="padding: 0cm 0cm 0cm 0cm;">
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span class="autores">Maria Beatriz Marquilhas</span></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><o:p></o:p></b></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal">
<!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0000_i1026" type="#_x0000_t75"
alt="" style='width:7.5pt;height:15pt'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Martinho\AppData\Local\Temp\msohtml1\01\clip_image001.png"
o:href="http://www.artecapital.net/imagens/pixel.gif"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><img height="20" src="file:///C:/Users/Martinho/AppData/Local/Temp/msohtml1/01/clip_image002.gif" v:shapes="_x0000_i1026" width="10" /></span><!--[endif]--></div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-59176694873080532742012-06-09T00:56:00.001-07:002012-10-18T01:30:58.065-07:0048 Portraits<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><a href="http://48retratos.blogspot.pt/"><span style="font-size: x-small;">http://48retratos.blogspot.pt/</span></a>
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">“48
Portraits" intends to negotiate directly with the famous series of
paintings with the same name, made by the artist Gerhard Richter. The 48
portraits of Richter were produced in 1971/72 and first presented in 1972 at
the German pavilion at the Venice Biennale. It's a 48 medium-sized
paintings (70x55cm), are black and white images taken from the encyclopedia.
They represent 48 European and American intellectuals, philosophers, writers, musicians,
scientists.<br />
<br />
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">Richter
makes a process of historical survey. But this kind of encyclopedic index in
painting, is also a very personal and subjective look at what the author
considered to be the influential figures and characters of the nineteenth
century. All of them are white and male. There are according to Benjamin,
H. D. Buchloh and Robert Storr, like a demand by the painter of a
historical kind of paternal authority.</span><a href="file:///D:/pintura/13%2048%20Retratos/48%20Portraits.doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="EN-GB" style="font-family: Symbol;">*</span></span></a><span lang="EN-GB"> <br />
<br />
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">The
exhibition will consists of 48 small scale paintings (16x24cm). They are
representations of unknown people taken from fragments of images found in the
Internet. These different "portraits" have in common the perception
of a given activity, a form of involuntary "index" of different
social characters. All these persons are disguised by masks or objects
that affect their individual identification. The conversion of these
characters unskilled in painting has the advantage of calling on the one hand,
the fragile concept of "social actor" in contemporary society, and
secondly, to point out the superficial nature of all social categorization in
process of open discussion. Thus, the convening of a random process in the
selection of pictures painted by the choices antinomy Richter, seeks to
highlight the relativity of the legacy of the great historical figures, as
opposed to a changing society and about which we know little.<br />
<br />
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB">The second
part of the exhibition will be composed of the video-animation “48 Portraits<span style="background-color: whitesmoke;"> </span>of Gerhard Richter”. This is a video
projection of a fragment taken from a photograph of Gerhard Richter himself in
70 years. In it, Richter calls us with a hand ready to shoot a camera. Repeated
48 times (2 seconds of video) this same image painted, seeks to explore and
enhance the effect arising from the unavoidable small differences that exist
between "frames."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB"><br />
This proposal seeks to establish links with the work of Richter, as well as the
ideas that are (were) associated: power, fame, authority. The dialogue
suggested by this work in particular is also a dialogue with a greater
tradition: the portrait as a category, with its own history and genealogy. Constant
is the desire to put into perspective the picture as a representation of the
specific traits that make up the individuality of a person. Here we
propose the opposite movement: to represent the loss of individuality in a very
particular moment in our history.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="EN-GB" style="font-size: 10pt;">Martinho Costa<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="EN-GB" style="font-size: 10pt;">October 2011<o:p></o:p></span></div>
<div>
<br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1">
<div class="MsoNormal">
<a href="file:///D:/pintura/13%2048%20Retratos/48%20Portraits.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt;">*</span></a><span lang="EN-GB" style="font-size: 10pt;"> Benjamin, H. D. Buchloh in 1996 in the
text: Divided Memory and
Post-TraditionalIdentity: Gerhard Richter's Work
of Mourning, and later in 2002 Robert Storr in
the second chapter of the text: Gerhard Richter: Forty Years
of Painting, makes reference to this reading.<o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-37160632154214267502012-04-28T03:26:00.001-07:002012-04-28T03:27:30.628-07:00Ruínas dum tempo sem memória - Emília Ferreira<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">1. A ruína como tema artístico</span><br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Poderosa metáfora para o tempo, a ruína tem, como elemento
pictórico, história própria. Tardia no Ocidente, surge, no final da Idade
Média, como fundo de paisagem e afirma-se apenas quando o Renascimento anuncia
os seus pressupostos. Petrarca é geralmente apontado como o primeiro italiano —
e o primeiro Ocidental — a mencionar o <i>gosto
pela ruína</i>. O Renascimento adopta-a então, ora como elemento cenográfico,
simbólico do conhecimento dos antigos (em alguns retratos de ilustres
humanistas, por exemplo), ora em obras de cariz religioso, como as
representações da natividade, figurando como alegoria da ordem nascente sobre
os escombros do paganismo. A ruína emerge assim como a enunciação inequívoca de
um novo tempo. Da efemeridade da vida e da sedimentação do peso dos dias sobre
a paisagem. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O Barroco notabilizá-la-á como sinónimo de belo. Ao
descobrir a beleza da velhice, cria uma nova “categoria do belo, o bizarro” <a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 11pt;">[1]</span></span></span></a>,
na qual o <i>velho</i> toma o mais apelativo
rosto de <i>antigo.</i> E, assim, do mesmo
modo que, então, a escultura passa a mostrar, amorosamente, os aspectos até aí
vistos como tenebrosos, do esqueleto (ruína do corpo, etapa final da nossa
história pessoal, derradeiro aspecto de diferenciação — e de indiferenciação,
também, já que a morte é a grande igualizadora — antes de nos tornarmos pó),
também a pintura acolhe as representações da paisagem pontuada de ruínas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Em alguns casos, como é notório em gravuras de René-Jacques
Charpentier ou de Giovanni Baptista Piranesi, nas cenas de ruínas associam-se
várias imagens de morte: a dos edifícios, das civilizações e dos homens.
Esqueletos humanos ou urnas de homens célebres convivem com destroços de
palácios, templos ou monumentos. A morte reina sobre o que antes foi vivo e
poderoso — e que, mesmo na destruição, mantém o seu irresistível apelo, o seu
encantatório chamamento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Do gosto da representação da paisagem natural, ao das <i>vedute</i>, para sempre associadas a Veneza,
a Canaletto e Francesco Guardi e ao exercício educativo do <i>Grand Tour </i>(a viagem empreendida no século XVIII, pelos jovens de
classes abastadas, para complemento da sua educação, que assim se enriquecia
com o contacto com <i>o mundo</i> e os
vestígios de outros tempos e culturas), retomou-se o gosto da <i>vista melhorada —</i> que os flamengos já
haviam inventado na representação da paisagem natural. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Assim, se a <i>veduta</i>,
tal como a definia Canaletto, era tomada "dal vero" — ou seja, mesmo
alterada, melhorada, como tantas vezes se encontra em Guardi, a paisagem
retratada era supostamente reflexo da realidade — já a da ruína, enquanto
elemento central na pintura <a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 11pt;">[2]</span></span></span></a>,
era guardada para um exercício de estilo: os caprichos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Estas "vedute ideate", literalmente <i>vistas idealizadas</i>, como lhes chamava
Canaletto, eram paisagens compostas com elementos inventados. Com a novidade,
em relação aos flamengos, de que os “organismos estranhos” nelas introduzidos
não eram montanhas, nem quaisquer outros acidentes de terreno, mas edifícios
que tinham como particularidade interessante o facto de se encontrarem
semi-destruídos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Essas arquitecturas parciais — exercícios do fragmento que,
tomado como objecto de culto, é tornado epicentro do fenómeno da representação,
encenando e evocando um tempo simultaneamente perfeito e perdido — mimam o real
e projectam uma poética que o actualiza, ordenando-o de acordo com a imaginação
do autor, que assim cria as suas próprias arquitecturas perfeitas e se integra
na tradição, reformulando-a. O desenho e a pintura, criadores desses não-lugares
que constituem os caprichos, espaços
desabitados e abandonados, onde o pretérito se enraíza, encenam o salto
cronológico; apoderam-se do tempo: um tempo que alimenta a nossa emoção. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O século XVIII, juntando à beleza a consciência temporal,
mostrar-nos-á a ruína como o belo ameaçado pela morte. Hubert Robert,
porventura o pintor francês mais associado à escolha da ruína como tema
preferencial (graças também à crítica de Diderot, por ocasião do Salon de 1767,
na qual o pintor apresentou mais de duas dezenas de obras em que figuravam
arquitecturas imaginárias), tratou-a com especial atenção, coroando-a com
frequência com uma luz dourada, oriunda de céus altos e majestosos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A finitude torna-se tema central: tudo tem um fim, tudo está
ameaçado; até o que foi construído para durar, até o que, pelas suas qualidades
intrínsecas, mereceria ser perene. Mereceria permanecer, para nossa eterna
contemplação. A ruína surge, portanto, nestes anos (e, em muitos modos, assim
se mantém), como alegoria do tempo. Consciência do que a sua passagem opera
sobre o mundo, a reflexão sobre o final, sobre a vanidade de tudo face ao
grande apagamento, abrirá caminho ao romantismo. Desse tempo longo tirará ainda
o século XIX a noção de história, de pertença, de cultura. De património. Até
de nacionalidade. As ruínas configurar-se-ão assim como elementos fundadores da
nossa identidade e da nossa cultura, traços que legitimam a nossa permanência
num território e que inspirarão a nossa produção futura <a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 11pt;">[3]</span></span></span></a>.
Como referirá George Steiner, a ruína é a memória; e é, por isso mesmo,
elemento constituinte do que somos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Por tudo isto, a ruína, como conceito, encerra em si mesma a
semente da mudança. Ao reflectir o tempo como entidade dúplice — instante de
criação e contínuo de destruição — ela inscreve-se e inscreve-nos na tradição e
na alteridade. Por outro lado, o facto de as ruínas não terem todas o mesmo
tempo de nascimento (ainda que, com frequência, na pintura, idealmente, elas
reflictam um <i>momento de ouro</i>, de
inequívoca inspiração clássica), permite-nos pensar a sobreposição ou
sedimentação cronológica, ou seja, possibilita-nos a sua actualização. A sua
inscrição na contemporaneidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">2. A actualização do tema <i>ruína</i> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Ao contrário do evocado pela ruína na sua representação
histórica, tradicional, a opção de Martinho Costa, nesta sua pintura,
confronta-nos com a evidência de um tempo excessivamente rápido e voraz na
criação de destroços. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Nas ruínas aqui representadas, os edifícios não são antigos,
construídos com materiais nobres como a pedra, ornados de frontões e colunadas.
Não resistiram, durante séculos, à erosão e ao apagamento. Não foram tombando,
pedra a pedra, com os anos, nem tomados de assalto pela natureza que, na
ausência do homem, se reapodera dos seus feitos, infiltrando-se e apagando-os.
Pelo contrário. Os edifícios escolhidos para esta pintura são nossos
contemporâneos, construídos em betão ou em madeira — e ainda há pouco. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">As linhas destas novas ruínas não evocam palácios nem
templos, compondo cenários grandiosos. Antes se perfilam como estruturas
racionalizadas, geométricas e simples, cuja construção, rápida e eficaz, se
destinou a fins específicos. Os seus programas foram tão claros como o seu
tempo de vida: erguidos para serem apenas úteis, o fim da sua utilidade ditou o
seu termo. Sem tempo para esperar que a dureza dos elementos apague a pouco a
pouco a frescura dos seus traços, a destruição é-lhes ditada por imperativos
pragmáticos. O seu tempo de vida foi curto. Excessivamente breve. A sua
destruição pode ser operada por vários factores: acidente, incidente, acto
voluntário; terrorismo, decisão urbanística, decisão comercial. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">A memória tem falhas e alimenta uma situação de A</span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">hlzeimer social. A
renovação é exigida por um tecido urbano em constante mutação, em luta com um
espaço comum de memória e uma urgência de intervir, de ganhar terreno e
dinheiro. </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">É
certo que a fúria dos elementos pode ter aí uma palavra a dizer. Mas também
neste aspecto a ruína é actualizada, já que não remete para castigos divinos
(cataclismos bíblicos), mas para catástrofes naturais. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Não há por isso sacralidade nem contida emoção na
contemplação destas novas ruínas. Há, meramente, o testemunho de um instante. A
noção de um tempo demasiado fugaz. Em que nada (ou muito pouco) permanecerá
para dar conta das nossas produções aos vindouros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">3. A ruína instantânea<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; tab-stops: 154.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Num período histórico como o actual, em que se cultiva uma
aguda consciência da importância da preservação da memória, levando a que por
vezes se comprometa o crescimento presente com a manutenção, a todo o custo, de
edifícios velhos (não <i>antigos</i>) cuja
relevância arquitectónica e histórica é por de mais discutível, apagam-se
contudo com grande facilidade os registos da produção do nosso próprio tempo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Podemos, portanto, afirmar que convivemos actualmente com
pelo menos dois tipos de ruína: a</span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> de edifícios com algumas décadas, que se mantêm
de pé, graças a constantes, excessivas e por vezes incongruentes intervenções,
e a outra, constituída por construções menos antigas e mais “descartáveis”; como
se tornada ruína antes de tempo. Esta não apenas se degrada com excessiva
rapidez (como se os materiais usados comprometessem, desde o nascimento e
deliberadamente, o seu tempo de vida), como é também “abatida”, sem apelo nem
agravo, sem que nada dela sobreviva.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">É justamente desta última que se ocupa Martinho
Costa. Daquela de que nada fica. A não ser o instante da imagem captada no acto
da destruição.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O momento de desconstrução é a evocação da fragilidade da
matéria, da sua não perenidade. A tela que evoca, como num instantâneo (de
notar que todas estas imagens de Martinho Costa são <i>instantâneos</i>) a passagem, numa rua, do veículo que vai contribuir
para a demolição, aponta para a passagem do instante.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Actualizando os diários de viagens e as pinturas (as <i>vedute</i>) que, no regresso do Grand Tour,
se exibiam, como há escassos anos se coleccionavam postais ilustrados e hoje
carregamos cartões de memória com centenas de fotografias digitais, as obras de
Martinho Costa remetem para os fazedores (anónimos, aparentemente sem
identidade — a redacção vazia evoca a impersonalização das fontes da
informação, da mediatização das imagens, de bancos de imagens, multiplicadas à
saturação) das imagens, das notícias.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Assim, para o pintor, a ruína é também o sinal da desolação
e destruição (despojo, mero vestígio) da paisagem, já não retratada como
povoada por caprichosas construções sobre as quais o tempo foi ficcionado
(ficção dentro de ficção, já que o capricho é, por definição, a criação de uma
paisagem ficcional), mas como destroço, um lugar no qual a fantasia é
substituída por actos de violento pragmatismo. O romantismo indiciado no <i>capricho</i> dá lugar à visão da natureza
como parte de um mundo de coisas (objectivado) a usar e despojar. Muito longe
desse mundo, neste outro de objectos descartáveis, em que tudo está à beira do
apagamento, até nós, a ruína torna-se a metáfora absoluta, invadindo todos os
recantos da paisagem e das nossas vidas. Como adiante veremos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">4. A escolha das imagens<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O conjunto destas quase quatro dezenas de obras
de pintura reunidas neste volume tem uma base muito concreta e notória: a
fotografia. Actualizando também a utilização de um recurso técnico que se
tornou mais frequente a partir de meados do século XIX, Martinho Costa opta
pela imagem fotográfica como ponto de partida para a elaboração das suas
pinturas. Não sente, por isso, necessidade de desenhar, recorrendo antes à
projecção dessa matriz imagética sobre a tela e sintetizando pictoricamente o
que vê, à medida que a mão e as tintas avançam sobre o suporte. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">O resultado do seu trabalho é, deste modo, a
análise e a depuração das “tomadas” originais. Mas de que imagens se trata,
afinal? </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Como
escolhe ele o que representar? Para Martinho Costa esta questão tem uma
resposta quase óbvia: a internet, fonte inesgotável de imagens, pode a um tempo
fornecer fontes iconográficas da mais diversa natureza. Recolhidas quase ao
acaso ou através de busca dirigida (neste caso, sob o tema da demolição), o seu
único fio condutor é o do registo de um momento em que algo <i>está a acontecer</i> ou <i>já aconteceu</i>. </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Ou seja: o que nesta obra se inscreve é a assunção de que
apenas o que acolhe o caos é passível de ser representado. Ou, como diria
Tolstoi, na frase inaugural de Anna Karenina,
“as famílias felizes não têm história”. Ou, como sugeririam os gregos,
apenas o <i>pathos </i>propicia a narrativa.
Por isso, esta representação busca o sentido no instante mediático, naquele que
se pode constituir como o grau 1 da narrativa. Aquele em que se enuncia a
dúvida: <i>e agora?</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Estas imagens que, deliberadamente, não partem
de esboços nem de notas tomadas pelo autor, nem nascem sequer do seu olhar
filtrado por uma câmara, mas que resultam de pesquisas orientadas num buscador
de internet, têm, além disso, uma outra valia: </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">o facto de o libertar, enquanto pintor, de um enquadramento
inicial, consciente. O enquadramento seguinte, após a escolha da fotografia, já
é feito com o objectivo da sua representação pictórica posterior. Liberto do
olhar fotográfico e assumindo esse exercício, desde a raiz, como um labor
conscientemente pictórico, o <i>capricho</i>,
tal como Martinho Costa o actualiza, revela-se exercício de enquadramento,
ponto de vista.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Apesar da matriz fotográfica, a pintura
resultante não é, como facilmente se percebe, mera ampliação do original. Sobre
cada imagem, Martinho Costa trabalha um novo enquadramento, ordenando as suas
prioridades em termos de enfoque. O resultado </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">— </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">à parte a já mencionada síntese operada pela pintura, e que se torna
tanto mais aparente quando mais nos aproximamos para a ver, na fragmentação da
pincelada (mais texturada nos formatos pequenos, mais lisa nos formatos maiores
<a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 11pt;">[4]</span></span></span></a>) </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">— </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">apresenta uma maior densidade de acção ou um
foco mais complexo de informação do que o do seu ponto de partida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">5. Fugir do mediático e do facilmente belo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Como já notámos, a escolha que assim se opera
oferece, por um lado, a possibilidade de trabalhar sobre o olhar de outras
pessoas (a fotografia original) e, por outro, a de recolher imagens oriundas de
todos os pontos do globo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Apesar desse elemento de diversidade, a globalização e a
estrutura que orienta a escolha das imagens originais, conduz a que sejamos
levados a pensar inevitavelmente em noticiários, em fotogramas que captam
instantes de calamidades, de destruição deliberada. Contudo, não obstante ser
esse o mote inicial, as pinturas tentam mitigar o efeito mediático. Por um
lado, através da sua esquiva forma de identificação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Com efeito, o facto de as obras serem definidas como <i>sem título</i> liberta-as de uma pertença
imediata a um local ou a um acontecimento. Ainda assim, ao <i>sem título</i> é depois anexado uma informação, uma nota descritiva que
tem como objectivo direccionar a atenção para pormenores compositivos. Deste
modo, encontramos “pistas” como <i>Viaduto,
Alpinistas, Torre 1, Demolidor, Ponte, Camião de Exteriores, Eurovia, Turbina,
Dallas 1, Avião, Pala, Atentado, Manifestação</i> (duas raras cenas nocturnas),
<i>Postes, Fundações, Hipermercado, Interior
#2, Color Bank, Interior #3, Estátua, Viaduto #1, Inundação em Veneza,
Stripper, Interior #1, Inundação, Fachada, </i>e <i>Komatsu</i>, na primeira série do livro e, na série Ruína, “pistas”
como <i>Planet Ho, Inundação, Casa, Os
Quatro, Interior, Vivenda, Palmeira, Navio, Vala, Timberland, Depósito de Água,
Reciclagem, Entulho, The Met, Dallas, X, Pro Green, Nokia Theater, Parabolic
Antenna, Lago, Kmox, Armazém, Clareira, Torre, Coda </i>e <i>Demo One.</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Por outro lado, a escolha da paleta, embora permita o
contraste necessário à clara compreensão dos elementos representados, não
acentua a cenografia da guerra, do confronto, do efeito que facilmente captura
o olhar. Por isso mesmo, nesta maioria de obras que retratam instantes
apanhados sob a clara do sol (raras são, como vimos, as “tomadas” de noite —
neste conjunto de 39 pinturas, encontramos apenas duas) é notória a atenção ao
que o pintor define como uma vontade de <i>não
diferenciação</i>, ou seja, a rejeição ao excessivamente mediático, ao sonoro
espectáculo apetecido às televisões. E é precisamente ao destituí-las desse
peso, permitindo-nos olhar para elas de um modo novo, na sua tranquilidade e
inexorabilidade final, que aí reencontramos de novo a tradição da pintura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Isso acontece porque, apesar de as imagens ostentarem essa
evidente carga informativa, Martinho Costa as trabalha como matéria
eminentemente pictórica, isto é, usa-as para explorar o seu potencial na e
através da pintura. Rejeitando à partida as imagens mais compostas, mais
facilmente agradáveis e harmoniosas, desconfiando do “bonito” como conceito
facilitador, procura e escolhe imagens em que o caos estrutural, compositivo,
esteja claramente presente. Não apenas um caos identificável na ordem (ou
desordem) do acontecimento — note-se como os seus céus tranquilos, benignos,
acompanham cenas de destruição. Mas um caos que se reconhece na complexidade
das linhas, das texturas, das cores e dos seus efeitos lumínicos. Uma desordem
que, por ser pictórica e só por isso, serve, muito adequadamente, os seus
propósitos de representação da ruína.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Semelhantes pressupostos, como vimos, reiteram uma escolha
de imagens que não aponta na direcção do belo, do composto, da ruína emoldurada
pelo sagrado de um tempo longo e instaurado pela história; e, nesse sentido,
indicam-nos já o caminho para o nosso tempo. A melancolia que a ruína devia
dar-nos, no século XVIII, já não existe nestas pinturas. Pelo menos não da
mesma maneira. Já não nos envolve na aura de um pretérito longo e perfeito, de
que nos sentimos saudosos. Antes nos aponta uma aguda sensação de finitude num
quadro geral de efemeridade, de banalidade. Que pertença podemos então evocar
perante tais ruínas?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">6. Despojos de um tempo que escassamente esculpe<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Num momento histórico em que a população mundial
aumenta exponencialmente e em que a construção acompanha (e em alguns casos
ultrapassa) as necessidades mais imediatas de alojamento e dos mais diversos
equipamentos, a nossa ânsia construtiva apenas encontra paralelo na voragem do
seu apagamento. Essa erosão irrompe por todos os sectores da vida quotidiana,
desde a descartabilidade dos objectos, à fragilidade do tecido social, até à
negação da memória. Se as estradas, viadutos, pontes e tantos belos monumentos
antigos permaneceram até hoje, mesmo que em ruína, mesmo que com a ajuda de
campanhas de recuperação, não é certo que as construções actuais permaneçam
para lá de escassas gerações. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Como se representam, então, essas novas ruínas,
que não têm tempo de o ser? Neste caso, na não dramaticidade da sua perda. Na
recusa de, para além do acidente, para além do atentado ou do desastre natural,
o olhar se comprazer com a narrativa do drama. Por isso, essa pintura não chora
o que se perde. Aponta. Regista. Analisa. Com linhas, cores, tons. Efeitos
lumínicos que, rejeitando o estrondo da abertura de telejornal, nos dão os
efeitos objectivos e objectivados do que aconteceu. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Como nos relacionamos com estas ruínas? De modo
porventura dúbio, claramente dependente da nossa própria memória, da nossa
capacidade de significarmos o que vemos, de empossarmos simbolicamente o que se
perde. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Retomemos um aspecto crucial: para lá da acção, reconhecível
por todos e emocionante pela evidência da sua existência, a não identificação
dos lugares e dos edifícios (com a excepção mais notória da imagem que de
imediato se reconhece como pertencente à Praça de S. Marcos, em Veneza) é um
dos elementos essenciais na escolha do pintor. Esse apagamento do lugar
específico pode ser lido de duas maneiras: por um lado, abre, para cada imagem,
a possibilidade da sua universalidade. Nesse sentido, englobando-nos a todos
igualmente, atinge-nos no seio da nossa frágil temporalidade, num mundo caótico
e precário do qual todos fazemos parte e em cuja ruína nos reencontramos.
Porém, a ausência de drama nestas imagens relembra-nos que o que aqui vemos não
é a realidade, mas uma sua <i>re</i>-presentação,
uma sua síntese, um olhar pictórico sobre o caos. Assim nos descansamos. Assim
nos reconfortamos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">7. Um último instante<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">As ruínas de Martinho Costa têm um grau de atenção ao tempo
que as integra no tempo. São, como facilmente reconhecemos, imagens de hoje. E,
nesse sentido também, imagens que facilmente serão datáveis daqui a algum
tempo. Posicionando-se simultaneamente como criador e espectador de um <i>corpus</i> iconográfico, o pintor assiste
também ao passar do tempo sobre as suas pinturas, interessando-lhe perceber
como é que estas ruínas irão envelhecer, perdendo actualidade, denotando um
tempo de criação. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Por tudo isso, estas ruínas, apesar de tranquilas e
enunciadoras (mais do que denunciadoras, não é de mais afirmá-lo) indiciam não
apenas a ruína do tempo (patente no desmoronar dos edifícios ou na degradação
de espaços públicos), como a das nossas vidas, na sua fragilidade, na sua
mortalidade: o desabamento do lar, a desolação que se abate sobre o espaço
íntimo, pessoal, privado, é o desabar da nossa estrutura mais íntima. Aqui se
constata. Sem se julgar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Se a introdução desse elemento pessoal, privado, familiar, é
mais um dos sinais da actualização do tema (algo que nem a ruína nem o capricho
nos dão), estas obras mantêm, contudo, alguns dos pressupostos clássicos da
representação da ruína, como a tentativa de manter visível e clara a ordem
aparente do edifício, antes da sua destruição, ou a introdução da figura humana
como medida da escala do edifício. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">E, nesse aspecto, a melancolia perante o fim não sendo
equiparável, como vimos, à sua poética setecentista, reinventa o sentimento
para a contemporaneidade, estabelecendo ainda pontes com a tradição. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Na memória deste olhar que aqui encerra as suas deambulações
sobre estas pinturas de Martinho Costa, surgem as propostas de inquietação:
nestas obras, tal como em Guardi, o silêncio que as figuras presentes ostentam
é notório. Elas vivem, solitárias e mudas, o testemunho do fim. Quase sempre
alheadas da nossa presença, ensimesmadas na realidade pictórica que as acolhe e
constitui, elas não dialogam com o espectador. A ruína é total. Não só no
desmoronar das construções, como no desabar da comunicação. Diz quem observa: é
o nosso silêncio que ali ecoa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 15px; line-height: 22px;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br clear="all" />
</span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;">[1]</span></span></span></span></a><span style="font-size: 9pt;"> In “Ruines (esthétique)”, <i>Encyclopædia Universalis</i>, Corpus 20, Enciclopædia Universalis,
Éditeur à Paris, 1989, p. 346.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;">[2]</span></span></span></span></a><span style="font-size: 9pt;"> <i><span lang="EN-GB">“</span></i></span><i><span lang="EN" style="font-size: 9pt;">In painting, as in literature, the ruin
often furnishes the landscape in which a narrative is set. As an element of
landscape, however, ruins constitute the background of the principal
representation. The caprice represents the move of the ruin in painting from
the background to the status of subject. We can speak of the poetics of a
representation when it has become the subject of invention and thus a work of
art unto itself. In the case of the caprice painting, ruined architecture has
become the focal point of the artist's invention.”</span></i><span lang="EN" style="font-size: 9pt;"> In </span><span lang="EN-GB" style="font-size: 9pt;">AUGUSTYN,
Joanna — “</span><span lang="EN" style="font-size: 9pt;">Subjectivity in the fictional
ruin: The caprice genre”. In </span><i><span lang="EN-GB" style="font-size: 9pt;">The
Romanic Review</span></i><span lang="EN-GB" style="font-size: 9pt;">, Vol. 91, 2000. <a href="http://findarticles.com/p/articles/mi_qa3806/is_200011/ai_n8906370">http://findarticles.com/p/articles/mi_qa3806/is_200011/ai_n8906370</a>.
[p. 1]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;">[3]</span></span></span></span></a><span style="font-size: 9pt;"> Como refere Alberto Ustárroz, as ruínas são para o
arquitecto “un pasado visto <i>como soporte</i>,
no como un sistema cerrado; un <i>continuum</i>
que se selecciona y afila com el presente”. In <i>La lección de las Ruinas: Presencia del pensamiento griego y del
pensamiento romano en la arquitectura</i>. Barcelona: Fundación Caja de
Arquitectos, 1997, p. 11.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/7%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o/Parte%20II/Texto%20EF%20Martinho%20Costa.doc#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt;">[4]</span></span></span></span></a><span style="font-size: 9pt;"> </span></span><span style="font-size: 9pt;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A escolha da dimensão da tela revela uma perspectiva extra:
um aguçar e depurar do representado. </span><span style="font-family: Arial;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
</div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-15505032255308502292012-04-28T03:19:00.001-07:002012-04-28T03:21:07.975-07:00Press Release: Exposição Ruína, Galeria 111<br />
<div class="MsoNormal">
Na
imensurável e infindável base de imagens disponível na internet, Martinho Costa
escolhe como ponto de partida catástrofes naturais, demolições ou outras
imagens de destruição, que apresenta numa nova série de pinturas, reunidas
sobre o título Ruína, na Galeria 111 – Lisboa, entre 11 de Setembro e 8 de
Novembro.</div>
<div class="MsoNormal">
Atendendo
à escolha deste particular modelo anónimo, e que o dia da inauguração coincide,
casualmente, com os acontecimentos em Nova Iorque a 11 de Setembro de 2001,
estas pinturas concentram-se na actual discussão sobre a decadência do mundo em
que vivemos e, de igual modo, sobre o modo como olhamos para o mesmo. O
Romantismo vindo do século XVIII olhava de uma forma sublime para a força da
natureza. Através da visão do poder incontrolável e indominável, o homem
subjectivo e a sua individualidade eram sempre confortavelmente atacados. O
confronto seria seguro porque era feito através da representação de uma
realidade tenebrosa e nunca através da própria realidade. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando
o artista recolhe da internet as imagens contemporâneas de destruição e
decadência também se socorre do mesmo mecanismo Romântico. Mas, esta segunda
representação, sendo que as pinturas são feitas através de reproduções
fotográficas, recentra o alvo: deixa de ser o indivíduo para passar a ser o
estado do mundo, a forma como ele é percepcionado e colectivamente vivido.
Assim, as pinturas ao preservarem a história e ao fixarem a história
contemporânea cumprem o seu mais pertinente e antigo papel. Tal como as
gravuras a partir do século XVI e os retratos que proliferam na história de
arte, estas pinturas “históricas” e de “paisagens”, ao contrário das
fotografias que facilmente se perdem no anonimato da imensa internet,
lembra-nos de que matéria o mundo é feito, lembra-nos de como nós somos feitos.<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Galeria 111</span></div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-57377459849904825932012-04-28T01:27:00.001-07:002012-04-28T01:27:36.551-07:00Notas sobre a série Völkerwanderung (Deambulação dos povos) - Bruno Marques<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 177.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A
história é necessária não apenas para tornar a vida agradável, mas também para
dotá-la de um significado moral. Aquilo que, em si, é mortal, atinge a
imortalidade por intermédio da história: o que está ausente, torna-se presente;
as coisas velhas são rejuvenescidas; e cedo, são os jovens iguais em maturidade
aos velhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 247.8pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 247.8pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">MARSILIO
FICINO, 1676 (carta ao filho de Poggio Braccione).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">I. BATALHAS ATÓPICAS E
SEM MEMÓRIA: A EXTRAPOLAÇÃO DE ESQUEMAS HISTÓRICOS ESVAZIADOS<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Integrada na
nobre "Pintura de História"<i> </i>- o <i>grand genre</i> segundo a
hierarquia académica formalizada no século XVII<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn1" name="_ednref1" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[1]</span><!--[endif]--></span></a>
-, a Cena de Batalha serviu, desde a Antiguidade<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn2" name="_ednref2" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[2]</span><!--[endif]--></span></a>,
de monumento comemorativo para narrar, com dimensão épica, as sagas militares
factuais e míticas travadas pelos povos contemporâneos ou ancestrais. Tal
temática era tida em elevada consideração na medida em que exortava a
edificação pública dos ideais civis, mediante mensagens de índole moral e
intelectual, invariavelmente veiculadas com um forte pendor pedagógico e
propagandístico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Tal reposição
iconográfica no contexto da arte contemporânea gera um inusitado desconcerto.
Dirá o visitante mais esclarecido ao mais incauto que Martinho Costa não poderá
mais exercer o papel "clássico" do pintor que, por encomenda oficial,
acolheu a incumbência de mitografar a glorificação de um dado reino ou país
através da celebração das proezas (colectivas e individuais) granjeadas pelas
batalhas memoriais que hoje preenchem os manuais escolares de História.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Depois das
séries baseadas nas prosaicas imagens de automóveis anónimos em circulação (<i>Gran
Turismo</i>), nos transeuntes captados furtivamente pelo óculo <i>voyeur</i>
das câmaras de video-vigilância (<i>Hall of Fame<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn3" name="_ednref3" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><b>[3]</b></span><!--[endif]--></span></a></i>)
e na catalogação ora isolada ora integrada de tipologias de edifícios que
compõem a definição programada do urbano<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn4" name="_ednref4" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[4]</span><!--[endif]--></span></a>
(feitas a partir do jogo <i>SimCity</i>), Martinho continua o seu ímpeto
respigador de imagens que vêm <i>enformando </i>o nosso universo mediático
contemporâneo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Finalizada a ostensiva
tematização do <i>pixel</i> nas idílicas paisagens forjadas pelos jogos de
computador (com a série <i>Pastoral</i>, composta por imagens trasladadas do
jogo <i>Age of Empires</i>), o artista transfere a sua atenção para as afamadas
cenas de batalhas fabricadas digitalmente que fascinam jovens e adultos
aficcionados pelo mundo das consolas e jogos para PC. E atende-se que os quis
compreender depois de ter visitado os <i>sites </i>que os catalogam,
reconhecendo que já eram pinturas <i>per se </i>de pleno direito. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Na presente
série, intitulada<i> Völkerwanderung (Deambulação dos povos)</i>, Martinho
parece agora pintar batalhas <i>históricas</i>. No entanto, depois de um
segundo olhar compreendemos ser vão tentar determinar o local do evento
mediante um conjunto de presenças significativas, testemunhais. Esta desgarrada
replicação de signos-cliché parece resultar em espelho fiel do imaginário
contemporâneo. Pois não importa <i>onde</i> e <i>quando</i>. O que conta
tão-somente é o espectáculo puro da acção vertiginosa e seu impacto monumental,
as estonteantes movimentações das multidões, o aparato estético dos
enquadramentos, seus laboriosos pontos de fuga e artifícios de proporção que
seduzem o olhar em prol do deleite de penetrar num passado remoto através de
uma espécie de <i>máquina do tempo virtual</i> (para o pintor, dispositivo
alienante altamente calculado, evasão ilusória de uma realidade humana que não
mais satisfaz).<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn5" name="_ednref5" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[5]</span><!--[endif]--></span></a> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Problematizar o
binómio <i>obsolescência do(s) género(s) clássico(s) da pintura</i> vs. <i>insondáveis
recuperações da Pintura de Batalhas no mundo contemporâneo</i>, é, no caso de
Martinho, transpô-la da ordem dos factos - eventos militares localizados no
tempo e no espaço - para a ordem estrita dos modelos. Ou seja, trata-se de uma
recursividade formal, que generaliza alguns esquemas letárgicos de
representação, considerando-os linguagem vazia passível de ser
instrumentalizada. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Qual o sentido,
logo na obra que inaugura a série, de um <i>fogo de artifício</i> que converte
a reconhecida cena da batalha em significação dessa ruidosa explosão de cor?
Segundo o jovem pintor, esta alegoriza a própria condição do artista na
actualidade. Em jeito de confissão, ele é aquele que "atira uma coisas
para o ar para ser notado, para chamar atenção... ou somente para
entreter". A ironia aqui é ampliada quando este o faz através do embate
militar. A conversão do lançamento de dardos de fogo, em conhecido espectáculo
de pirotecnia, é sintomático do esvaziamento do drama que as formas e
iconografias se prestam nos nossos tempos.<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn6" name="_ednref6" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[6]</span><!--[endif]--></span></a>
Ou seja, o que conta neste fogo de artifício é justamente a festa, o
espectáculo visual das luzes que iluminam um céu nocturno que, por sua vez,
esconde uma competição interna entre jovens criadores, ainda que situados,
hipocritamente, lado a lado na mesma fileira.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">II. A OBLITERAÇÃO DOS PORMENORES
"REALISTAS" DA GUERRA<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Martinho, fiel à
imagem digital que transplantou, afasta-se do fulgurante realismo do pormenor
que caracteriza muitas das representações históricas do género. Ao contrário
dos axiais modelos que representam, sem peia nem piedade, a mesquinhez dos
horrores da guerra com todos os seus detalhes mórbidos, nas suas pinturas não
existem as fileiras de soldados impassíveis jazendo mortos no chão<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn7" name="_ednref7" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[7]</span><!--[endif]--></span></a>,
as pilhas de seres transfigurados<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn8" name="_ednref8" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[8]</span><!--[endif]--></span></a>,
a agonia reclinada dos sujeitos trespassados por lanças ou flechas, os soldados
desarmados em pânico enquanto aguardam, no chão, pelo derradeiro golpe deixado
em suspenso<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn9" name="_ednref9" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[9]</span><!--[endif]--></span></a>.
Sem o frenesi dos cavalos derrubados<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn10" name="_ednref10" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[10]</span><!--[endif]--></span></a>,
o arrebatamento dos gestos e manobras dos combatentes, a desoladora destruição
das casas incendiadas e a inquietação entrevista nos corpos contorcidos pela
dor aguda das armas cortantes, o delírio inflamado esbate-se (paradigmático em
Gros e Delacroix) cedendo lugar a uma presença amorfa, mecânica, do corpo
genérico inanimado que exerce uma função programada, onde a convivência entre
fúria e coragem guerreira, e entre temor e desespero estampados nos rostos das
vítimas, se encontra irremediavelmente imiscuída. Até as incipientes manchas de
fumo contrastam igualmente com os memoráveis céus turbulentos que envolviam, em
densa veladura, um longínquo horizonte normalmente composto pelos diversos
matizes da poeira brilhante iluminada pelas impiedosas chamas da guerra<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn11" name="_ednref11" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[11]</span><!--[endif]--></span></a>.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Em <b><i>Campo
de Batalha #3</i></b>, a cidadela no alto da colina fica acima da vaga da
poeira (que não se vê!) e do turbilhão (que se imagina, mas que não se ouve!)
feito pela impetuosa progressão da cavalaria. Há neste cenário uma estabilidade
pré-ordenada que afasta do tumulto caótico que define a crueza física da
experiência da guerra. Onde estão os despojos deixados no solo, vestígio
indelével da voracidade da luta: fragmentos de lanças, armas de arremesso
abandonadas, couraças perfuradas, a mancha irregular dos pedregulhos e as
cavidades abertas no solo entre a horrenda mescla de lama e os restos mortais?
Em suma, Martinho presenteia-nos, em tom cinicamente idílico e lúdico, a imagem
requerida da guerra asséptica, <i>clean</i>, sem morte nem sangue...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">III. "DENTRO DA CENA": A VERVE INTER-ACTIVA DO JOGO<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Nas pinturas de
grande formato de Martinho<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn12" name="_ednref12" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[12]</span><!--[endif]--></span></a>,
não vemos o primeiro plano iluminado como ribalta que integra retratos que
individualizam os protagonistas das cenas. O quadro histórico clássico tinha as
suas leis: poucos protagonistas ordenadamente dispostos na cena, cada qual com
sua paixão claramente expressa no gesto, resolvida numa acção<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn13" name="_ednref13" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[13]</span><!--[endif]--></span></a>.
Por detrás, a habitual massa compacta de soldados, indistintamente integrados
em fileiras pontuadas apenas pela inclinação repetida das armas. Em Martinho já
não se verifica a proeminência de um só plano que subordina os restantes para o
fundo indistinto. Aqui, a recorrência são soldados invariavelmente virados de
costas ou camuflados pelos elmos (a excepção, <b><i>Campo de Batalha #4</i></b>,
presenteia-nos máscaras amorfas, impondo o esquema impessoal que devora o
sujeito...). Progredimos com eles, no meio da chusma indistinta, não
identificando personagens (heróis ou vilões).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Ainda que
encarnando um visão privilegiada, é como se estivéssemos pisando o mesmo chão
que aqueles sujeitos sem rosto perpassam. Daí a sensação de envolvência, de
participação no evento, ecoando a supramencionada função do jogo como espécie
de máquina do tempo virtual. Apesar de encontrarmos alguns equivalentes na
história da pintura, o facto é que a contaminação do cinema consubstancia um
tópico incontornável. Por exemplo, em <b><i>Campo de Batalha #3</i></b>, os
três cavalos em primeiro plano parecem saltar para o espaço tridimensional da
galeria. O movimento impetuoso dos cavaleiros a galope na nossa direcção
coloca-nos no meio da acção. Somos, nesta cena, o operador da câmara suspensa,
corpo invisível não participante mas omnisciente, colocado entre as duas
fileiras rivais, momentos antes da brutalidade do embate que se aproxima. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Estamos <i>dentro</i>,
somos jogadores, sujeitos da acção. Não se trata da arquétipa perspectiva
panorâmica que nos coloca irremediavelmente <i>de fora</i>, numa elevação<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn14" name="_ednref14" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[14]</span><!--[endif]--></span></a>.
(Pela primeira vez nos trabalhos de Martinho a presença do horizonte é
constante). Experienciamos o ardiloso dispositivo que cria uma expectativa de
sucessão, em cuidada estratégia de concepção da imagem (como ocorre
exemplarmente no cinema), que subjaz a tipologia do olhar móvel e videográfico
como recusa da distância inerente à cenografia, à coreografia teatral, que fora
apanágio da tradição da pintura clássica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">IV. PAISAGENS GENÉRICAS: AS INCONGRUÊNCIAS COMPOSITIVAS COMO VALOR
SIMBÓLICO<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O enquadramento
paisagístico em Martinho é, como em qualquer cena que se inscreva na tradição
da representação histórica da Batalha, determinante. São paisagens sim mas algo
agrestes, desoladas e estéreis, por vezes pontuadas com edificações de época
(casas ou fortificações) e outras topografias típicas (o campo aberto da
planície com o fundo acidentado no horizonte - <b><i>Campo de Batalha #1 </i></b>e
<b><i>Campo de Batalha #4</i> </b>- ou a vista grandiosa do interior das
muralhas proporcionada pelo ponto de fuga da perspectiva euclidiana -<b><i>
Campo de Batalha #2</i></b>).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">São espaços
genéricos e operativos de encenação. Por isso o repertório resulta
extraordinariamente exíguo: não existem árvores, troncos caídos, manchas de
grama e poças de água, nuvens móveis no céu, choupanas de camponeses esmagadas
pela força colossal dos batalhões. Este leque pouco ou nada variado de soluções
cénicas explana a estrita panóplia de módulos compositivos que se replicam.
Trata-se, no fundo, de uma concepção <i>anti-pituresca</i> do espaço, por
subsumir a infinita variedade de aspectos naturais habituais a formatações
modulares pré-fabricadas, presas na samplagem de elementos-tipo, ou seja,
trata-se de um cenário nada preocupado pelo <i>particular do característico</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Que os
objectivos da arte imperial de outrora, narrativa ou simbólica, eram por vezes
incompatíveis com um tratamento realístico do espaço, torna-se plenamente
evidente nesta cínica <i>caricatura</i> que Martinho tece a vários momentos<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn15" name="_ednref15" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[15]</span><!--[endif]--></span></a>.
É nessa exacta medida que as incongruências formais são, aqui, conscientes e
deliberadas, fruto por um lado da padronização formal, por outro da colagem de
elementos idênticos em contextos variados (muitas vezes até ironicamente
retrabalhados pelo próprio pintor). A replicação passa por vezes despercebida
mas está lá, resultando em adaptação artificial a funções e condições de
espaço. Note-se nas bandeirinhas viradas para sentidos diversos (em <b><i>Fogo
de Artifício</i></b>). Logo que tentamos analisar as fontes de luz,
apercebemo-nos igualmente da natureza contraditória das relações espaciais
entre volumes e efeitos de gradação, paradigmaticamente explanado nas sombras
em encostas curiosamente direccionadas para o sentido do crepúsculo (em <b><i>Campo
de Batalha #3</i></b>). Ou seja, trata-se de uma luz natural que se comporta
como focos de luz artificial, como se a cena ocorresse num estúdio fotográfico.
Mas Martinho não se fica por aqui. Na mesma obra,<i> <b>Campo de Batalha #3</b></i>,
uma desproporção gritante entre figura e cavalo presenteia-nos cavaleiros-anões
inverosímeis, <i>jokers </i>medievais de caricatura. Situação reiterada no
"retrato equestre" de anónima armadura, em <b><i>Cavaleiro #1</i></b>,
com a energia reminescente do emblemático esquema tipificado <st1:personname productid="em Napole ̄o Atravessando" w:st="on">em <i>Napoleão Atravessando</i></st1:personname><i>
os Alpes</i> (1800-1801) de Jacques-Louis David.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Tanto as
edificações como as armas e a indumentária dos soldados remetem para a era
tardo-medieval. Neste ponto, Martinho inscrever-se-ia no método da descrição
exacta, com a máxima precisão histórica, em detrimento da <i>grande manière</i>,
segundo a concepção ideal da Pintura de História à Poussin, em que as figuras
se revestem com os repisados trajes clássicos. Porém, nesta operação de <i>assemblage
</i>feita de elementos prévios - a armadura, a lança, o cavalo, a fortificação
- detectamos incongruências temporais por efeito de acumulação de instâncias
por vezes entre si não exactamente coetâneas, por efeito de uma coabitação que
só um irónico <i>pastiche </i>genericamente descomprometido para com um momento
histórico <i>preciso</i> - datável - autorizaria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">V. O SER GENÉRICO: O SUJEITO INDISTINTO (SEM ROSTO) NA MASSA ANÓNIMA<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Em <b><i>Fogo de
Artifício</i></b> as tochas ardem e as armas rodopiam no ar. Mas os
"bonecos" de Martinho estão uma vez mais despossuídos de expressão
facial, de direcção do olhar e de linguagem corporal. Estas <i>cabeças sem
rosto</i> obliteram o centro natural dos dramas humanos. Não há moribundos em
obstinada adesão ao destino heróico, nem semblantes desfigurados em atroz
agonia suplicando por misericórdia. Em suma, não há <i>pathos </i>possível (não
podemos interpretar sentimentos, a psicologia ou o drama do personagem).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O sujeito é
submetido à frieza do esquema formal único e constante. São figuras severamente
hieráticas, robôs programados reproduzindo poses e gestos humanos para
significarem, esquematicamente, a iconografia da batalha. Daí resultarem
descaracterizados para se obter deles modelos facilmente repetíveis: o
cavaleiro, o escudeiro, o arqueiro, o porta-estandarte. O que equivale a dizer
que, tal como a topografia e as edificações, o sujeito adere, em calculada
frieza, ao mostruário da estrita panóplia de tipologias elementares<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn16" name="_ednref16" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[16]</span><!--[endif]--></span></a>.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Assim,
resta-lhes apenas cumprir o papel de fantasmas deste teatro adormecido, sem a
cadência ruidosa das espadas, dos gritos de guerra e dos esgares de dor, das
explosões de fogo e das inebriantes cintilações dos archotes, que o cinema é
tão pródigo em mostrar nas superproduções de Holywood, quando herda a função de
enformar o nosso imaginário contemporâneo a respeito do <i>topos </i>temático
da batalha heróica sanguinária (<i>Gladiador, Tróia, Alexandre o Grande,
Trezentos...</i>).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Essa esprectralidade
reforça-lhes o enigma de onde vieram, nem lenda, nem mito ou história alguma.
Onde estão as atitudes e as expressões das figuras "heróicas",
típicas do chefe militar moderno individualizado<a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_edn17" name="_ednref17" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[17]</span><!--[endif]--></span></a>
revestido com a patética grandiloquência das <i>acções nobres e poderosas</i>
prescritas pelas teoria académica? Nem a recorrente cena pulverizada com os
lampejos dos pormenores dum acontecimento real é visível, como <st1:personname productid="em A Morte" w:st="on">em <i>A Morte</i></st1:personname><i> do
General Wolf </i>(1770) de Benjamin West, por exemplo, que exprime
sintomaticamente um fenómeno emblemático dos tempos modernos: <i>a
transferência da devoção religiosa para o sentimento nacional</i>. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">VI. A ESTIGMATIZAÇÃO DA DIMENSÃO ÉPICA DA GUERRA: O PERIGO SOB A CAPA DO
LÚDICO<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Porque é que os
artistas contemporâneos não pintam as grandes batalhas do presente ou do
passado com a dimensão edificante de outrora? Para ensaiar respostas teremos
que nos debruçar sobre as superestruturas ideológicas que determinam a nossa
época: pós-colonial e anti-imperialista. O <i>relativismo cultural</i>
desencantado, que perpassa os discursos intelectuais e políticos dominantes,
visa aplacar qualquer sujeito eleito pelos conhecidos messianismos
providenciais que inspiraram, durante séculos, os ideários heróicos das nações
(ainda que alguns deles continuem espreitando, à espera de um novo ensejo).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Neste pano de
fundo, são sucessivamente convocadas as chagas abertas pela arte oficial que
marcou o período entre guerras. Mais: a Guerra em si mesma, sob o crivo do
imaginário colectivo tecido após o segundo grande conflito mundial, tornara-se
monstruosidade, identificada com imperialismo, ditadura e fascismo. Vivendo sob
o fantasma do Holocausto reitera-se o paradigma da <i>des</i>-idealização da
imagem do advento militar. Fenómeno já seminal no século XIX, com Goya - <i>Os
Fuzilamentos do 3 de Maio de 1808</i> (1814) - e exacerbado no século XX, por
Picasso - <i>Guernica </i>(1937), <i>Massacre na Coréia </i>(1951). Nasce então
o arquétipo do artista como testemunha de acusação dos horrores e absurdos da
guerra, representando-a já não com a glória do fausto heróico, mas como
carnificina e catástrofe. Torna-se vileza, atrocidade apocalíptica, aviso
premonitório do fim da civilização. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Contudo, nas
batalhas que Martinho pinta não vemos a versão "pesadelo" do conflito
armado visando retratar a brutalidade da barbárie e a ignomínia da degradação
humana. Ainda que resolutamente desembaraçadas do sensacionalismo dramático e
heróico de outrora, as suas cenas são inócuas pelo seu carácter de pura
demonstração, vitrine cénica de eventos "fabricados" em concordância
com as tipologias catalogadas na rede digital. Adquirem, ao invés, um sotaque
"escolar", de figura de manual de história ou de banda desenhada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Martinho surge
como aquele que pretende rememorar esse passado longínquo da pintura,
constatando a actualização de um olhar já não ferido pela dimensão ideológica.
Instaura, com isto, uma assertiva tomada de posição frente à História de Arte.
Herdeira da tapeçaria descrita na Ilíada que conta, em curiosa situação de <i>mise
en abîme</i>, a guerra de Tróia - fonte mítica dos modelos protocolares da
conduta heróica que perpassou milénios em consecutivas remissões eruditas -, a
cena de Batalha que Martinho apropria acaba por demonstrar como os antigos
esquemas recuperados pelos jogos de computador são <i>aparentemente</i>
"instrumento neutro" fora da época que o fabricou. Lembrando que não
há instrumento de uma época (ou poder), mas quando muito uma utilização
histórica do instrumento. Assumindo-se assim como denúncia de um ingénuo, e por
isso perigoso, gesto de branqueamento ideológico das formas de representação do
passado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Estas pinturas
de batalhas não oferecem modelos. Mas pintá-las significa dar-lhes,
irremediavelmente, um peso, uma consistência maior perante a coisa vista em
pequeno formato, que logo se desvaneceu no desenrolar do jogo, em prol da mesma
coisa pintada, que permanece, ao assumir a perenidade associada ao <i>medium</i>.
Por oposição à dinâmica cinemática do jogo, Martinho recupera o silêncio
eloquente da arte monumental. Contudo, a solenidade do tema é de imediato
rebaixada depois de sabermos a sua proveniência...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A <i>indiferença
</i>ao histórico espreita para revelar a sua obstinação em seguir o destino da
prestação, signo da máquina, como dispositivo de criação de realidades
destinadas ao lazer, à aventura do imaginário actuante. De um ponto de vista
céptico e desencantado, cínico e niilista, este empreendimento visa repensar as
lógicas que subjazem a <i>sociedade do entretenimento massificado</i>. Neste
ponto, Martinho deslinda o seu dedo acusatório porque constata a futilidade do
trânsito veloz das imagens. Tanto vale este como aquele momento, este ou aquele
lugar, porque carecem de qualquer outro significado que não seja o da <i>imagem
por si mesma</i>, simulacral, exaurida da sua função moral e pedagógica. (A
embriaguez da amnésia aviltra sempre a desfundamentação do presente.) Ao usar
fórmulas obsoletas que, apesar de tudo, ainda ecoam no imaginário popular mais
prosaico, Martinho chega a uma irónica determinação da Pintura de História: a
história não é mais facto memorável e exemplar, tampouco drama ou episódio, mas
sobretudo palco de encenação/ficção incessante. A guerra que Martinho pinta já
não é o <i>evento ocorrido </i>que se pode somente ilustrar ou recriar, mas uma
virtualidade que pressupõe todos os seus possíveis desenvolvimentos e configurações,
términos e resoluções, em aberto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O
sujeito-jogador ao assumir de empréstimo todas as identidades - de cavaleiro,
arqueiro, chefe militar, estratega - concentra em si todas as responsabilidades
e todos os actos da narrativa. Este fascínio, algo nostálgico, assenta ainda na
nossa ingénita aptidão para agir na história. Neles exercita-se esse campo de
batalha onde se joga a sorte, se testa a pontaria ou se tenta engendrar planos
de estratégia militar. A cena "recriada" não deve mais reflectir as ambiciosas
fantasias dos soberanos, e sim responder ao deleite particular de cada um. O
Homem contemporâneo não pode experimentar outro sentimento senão o das suas
escolhas. Como que por louco acesso de soberba, pode imaginar-se assim já um
qualquer general, bramindo a espada em grito de guerra, acabando de modo
inconfesso por incitar as forças primárias que existem recalcadas em cada um de
nós... (O visitante <i>vê esta cegueira</i>, encontra-se de fora, já não é
jogador mas o seu juiz.)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> Bruno
Marques<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 177.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Doutorando em História de Arte (FCSH da UNL) <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 177.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">e
curador independente (<i>inter-face</i> / Arte Contemporânea)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div>
<!--[if !supportEndnotes]--><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br clear="all" />
</span><hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="edn1">
<div class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref1" name="_edn1" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[1]</span><!--[endif]--></span></a> De
acordo com a formulação de 1667, de André Fébibien, historiador, arquitecto e
teórico do classicismo francês.</span></div>
</div>
<div id="edn2">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref2" name="_edn2" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[2]</span><!--[endif]--></span></a> Embora, em rigor, para
historiografia especializada (Ver Simon Pepper, "Battle pictures and
military scenes",<i> </i>in <i>The Dictionary of Art</i> (ed. by Jane
Turner) - Londres: Macmillam Publishers Limited, vol. 3, p. 387), o tema da <i>Batalha
Heróica</i> remonte ao Renascimento, existe uma miríade de exemplos desde a
Antiguidade, a saber: os painéis das vitórias militares nos cortejos triunfais;
os relevos narrativos assírios, como a <i>Batalha dos Deuses e dos Gigantes</i>,
do friso setentrional do Tesouro de Siphnos (c. <st1:metricconverter productid="530 a" w:st="on">530 a</st1:metricconverter>. C.); os grandes
relevos do arco do triunfo erigido em <st1:metricconverter productid="81 a" w:st="on">81 a</st1:metricconverter>. D. para comemorar as vitórias de Tito; a
extraordinária sequência episódica do friso em espiral da Coluna de Trajano
(113 d. C.), que mostra uma série de cenas de campanha triunfantes de Trajano
na Dácia (a actual Roménia); a cópia romana de uma pintura helenística que
figura no mosaico pavimentar que representa a <i>Batalha de Issus </i>ou <i>Batalha
de Alexandre contra os Persas </i>(séc. I a. C.), encontrado na Casa de Fauno,
em Pompeia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Cf.
Francisco Calvo Serraller (<i>Los Géneros <st1:personname productid="La Pintura." w:st="on">La Pintura.</st1:personname> - </i>Madrid:
Santillana Ediciones Generalesd, 2005, p. 9): "Aunque la definición
histórica de los géneros en pintura tuvo lugar en época relativamente tardía,
aproximadamente durante el siglo XVI, el origen de éstos, sin embargo,
permanece íntimamente ligado a la propia invención del arte occidental en la
antigua Grecia."<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="edn3">
<div class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref3" name="_edn3" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[3]</span><!--[endif]--></span></a> Nas
duas primeiras séries citadas, o recurso a imagens captadas pelas câmaras de
video-vigilância surge, no percurso de Martinho Costa, não apenas como um momento
primeiro e decisivo de mediação com esta realidade urbana, como também um modo
de ajustar contas com os suportes que a filtram. Com esse gesto, Martinho
consegue converter a entropia que advém da <i>mesmidade</i> do quotidiano num
lugar remoto, já fossilizado <i>em</i> e <i>pela</i> imagem, encerrada assim
para sempre no seu próprio tempo. Por outras palavras, o ritmo desenfreado da
vida resulta contrariado pelo congelamento intrínseco ao <i>medium </i>da
pintura.</span></div>
</div>
<div id="edn4">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref4" name="_edn4" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[4]</span><!--[endif]--></span></a> Na série que parte do jogo
de computador <i>SimCity</i> Martinho, tematizando a <i>urbanística </i>como
ciência da cidade, pinta o urbano como <i>não-lugar </i>(agora
"materializado" virtualmente) e instrumento prospectivo da vida
social actual. Mediante um aturado inventário averigua a relação entre as
células (edifícios-tipo) e sua co-integração
na teia urbana como todo contextual abstracto. Inquire assim o seu carácter
fortemente tipológico, em que as formas atendem a uma função e uma
espacialidade racionalmente calculadas, celebrando a potencialidade dos jogos
de computador enquanto concretização dos anseios (históricos) utópicos da
cidade como microcosmos <i>simulado </i>de um macro-cosmos a planear e a
construir.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn5">
<div class="MsoEndnoteText">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref5" name="_edn5" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[5]</span><!--[endif]--></span></a> "Gera-se a partir de
aqui uma ficção meta-histórica que se materializa em imagens altamente
sedutoras. O poder do estético manifesta-se assim, fazendo entrar o jogador num
processo de alienação física, mas também da sua própria consciência
histórica." (Martinho Costa, in texto inédito cedido pelo artista, 2007)</span></div>
</div>
<div id="edn6">
<div class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref6" name="_edn6" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[6]</span><!--[endif]--></span></a> Para
Martinho as imagens aqui transplantadas para pintura resultam, num dos seus
estratos simbólicos, na "representação de uma dupla violência: a violência
simulada da guerra, numa época particularmente violenta da nossa historia
ocidental; e a violentação da verdade histórica que se produz quando se
transforma essa barbárie numa coisa bela. Em última análise trata-se de
trabalhar o belo enquanto provocação." (Martinho Costa, in texto inédito
cedido pelo artista, 2007)</span></div>
</div>
<div id="edn7">
<div class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref7" name="_edn7" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[7]</span><!--[endif]--></span></a> Como
na <i>Batalha de Hastings</i> que figura na <i>Tapeçaria de Bayuex </i>(c.
1073-83). Uma guarnição parietal bordada de c. <st1:metricconverter productid="70 metros" w:st="on">70 metros</st1:metricconverter> de comprimento,
narrando a invasão da Inglaterra por Guilherme o Conquistador. Uma animação
convulsiva registada nos manuscritos ingleses: espécie de historieta
anglo-saxónica, que relata a emocionante conquista de Inglaterra pelos Normanos,
com economia de meios e encanto. Numa
das cenas específicas, os irmãos do rei inglês Harold são dizimados por
soldados normandos cuja parte inferior está repleta de soldados mortos e duma
diversidade de armas e armaduras abandonadas.</span></div>
</div>
<div id="edn8">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref8" name="_edn8" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[8]</span><!--[endif]--></span></a> Ver
as pilhas de corpos entre os destroços das barricadas <st1:personname productid="em A Liberdade" w:st="on">em <i>A Liberdade</i></st1:personname><i>
guia o povo</i> (1830) de Eugène Delacroix.</span></div>
</div>
<div id="edn9">
<div class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref9" name="_edn9" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[9]</span><!--[endif]--></span></a>
Veja-se a morte suspensa por alguns momentos antes do golpe fatal, tanto no <i>Dia
do Massacre de S. Bartolomeu </i>(1572-73) de Giorgio Vasari como em <i>Carga
de cavalaria guiada por Murat na batalha de Abukir</i> (1806) de Antoine-Jean
Gros.</span></div>
</div>
<div id="edn10">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref10" name="_edn10" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[10]</span><!--[endif]--></span></a> Ver <i>Árabes
em Escaramuças nas Montanhas</i> (1863) de Delacroix.</span></div>
</div>
<div id="edn11">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref11" name="_edn11" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[11]</span><!--[endif]--></span></a> Ao contrário do que
acontece <st1:personname productid="em A Batalha" w:st="on">em <i>A Batalha</i></st1:personname><i>
de Taillebourg </i>(1835/7) de Delacroix dominado por um fundo de penumbra quase
opaco. Ver também a fumaça negra e densa da guerra em <i>Skimish from Tatars </i>(1867)
de Masksymiliam Gierymski.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn12">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref12" name="_edn12" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[12]</span><!--[endif]--></span></a> De
modo complementar, Martinho apresenta uma secção de soldados individualizados,
em pinturas de pequeno formato, em situação de combate: catálogo de fórmulas
ressoantes nos esquemas ainda hoje reutilizados (nas coreografias do cinema, da
BD e nos jogos para PC), mas aqui desprovidos da <i>carga exemplar</i>, por já
não serem protagonizados por seres superiores, heróis memoriais ou lendários,
mas por figuras anónimas, protótipos triviais de bonecos de jogo.</span></div>
</div>
<div id="edn13">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref13" name="_edn13" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[13]</span><!--[endif]--></span></a> Ainda que em rigor não se
trate de uma batalha, encontramos num dos mais célebres frescos de Giotto, <i>O
Beijo de Judas </i>(c. 1305-06), o arquétipo iconográfico-compositivo do
aglomerado do conflito armado. Nesta obra, Giotto faz decorrer a acção ao nível
(do plano) dos nossos olhos, resultando numa integibilidade extremamente
eficaz. Evidenciando uma capacidade espantosa em organizar o foco de uma cena
em torno de uma imagem central entre a massa compacta e indistinta de
capacetes. Veja-se outros exemplos paradigmáticos como <i>O Juramento dos
Horácios </i>(1784) e <i>As Sabinas que interrompem o combate entre Romanos e
Sabinos </i>(1794-99) de Jacques-Louis David. Em <i>La rendición de Breda (Las
Lanzas)</i>, pintada em 1635, por Velázquez, existe um palco virado para nós,
onde os protagonistas nos olham nos olhos, posando para o espectador.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn14">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref14" name="_edn14" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[14]</span><!--[endif]--></span></a> A <i>Batalha de Issus</i>
(1529)<i> </i>de Albreecht Altdorfer apresenta a visão panorâmica que serve
para tentar seguir as descrições dos antigos quanto ao número e tipo de
combatentes, o que resulta nos dois protagonistas se perderem no formigueiro
dos seus exércitos. Nesta seminal vocação paisagística, a cavalaria, à direita,
mostra verdadeiros combates, enquanto os aspectos geográficos, logísticos e
políticos da campanha foram objecto de minuciosa atenção. Modelo que ressoa,
ainda que com a variante do formato (já não vertical), na extensa e esguia
representação da <i>Batalha de Brodino </i>(1912) de Franz Roubaud<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn15">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref15" name="_edn15" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[15]</span><!--[endif]--></span></a> Se por um lado o jogo de
computador oblitera as determinações essenciais consignadas <i>à sua razão de
ser</i> da imagem da Batalha Heróica - (1) comemoração de um celebrado
acontecimento prescrito pela história de um reino/Estado ou pela literatura
mitológica/clássica, (2) a narrativa ilustrativa do evento e a (3) veiculação
de uma enobrecida mensagem moral (invarialvelmente votada à valentia guerreira,
à argúcia militar ou ao espírito patriótico) -, por outro exacerba-a para lá
dos seus limites, quando lhe confere uma grande amplitude de imaginação à qual
esta fora sempre susceptível, pelo extenso alcance dos seus efeitos e o domínio
de liberdade que deu sempre ao pintor.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn16">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref16" name="_edn16" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[16]</span><!--[endif]--></span></a> Não existem os gestos
excessivos, bocas gritantes, olhos esbugalhados, apenas a rigidez desabitada
das marionetas uniformizadas. A figura aparece sempre fechada num mal
disfarçado esquema geométrico que o aprisiona e aniquila qualquer tentativa de
autenticidade simulada. São, assim, bonecos desapossados de qualquer
individuação. Peças de xadrez. Entidades numéricas. Agrupadas, configuram
situações informes, onde os limites entre o indivíduo e o grupo são obliteradas
em nome da agudização do organismo totalizante, como alegoria da abstracta
máquina de guerra.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn17">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/3%20V%C3%B6lkerwanderung/Cat%C3%A1logo%20-%20Sines/Ensaio%20Batalhas%20final.doc#_ednref17" name="_edn17" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference">[17]</span><!--[endif]--></span></a> Ver, por exemplo, <i>A
Batalha de San Romano </i>(c. 1450) de Paolo Uccello, mostrando o chefe das
tropas florentinas, Noccolò da Torentino, montando num cavalo branco durante a
batalha; ou em <i>Carga de cavalaria guiada por Murat na batalha de Abukir</i>
(1806) de Antoine-Jean Gros. Mais incisiva é <i>A Morte do General Wolf </i> (1770) de Benjamin West, seminal do tema
arquétipo do herói morto no campo da batalha, sobejamente "replicado"
em inúmeras obras como, a título de exemplo, <i>A Morte de Pierson </i>(1782-4)
de John Singleton Copley, onde se regista, com todo o brilho, o heroísmo do
jovem oficial ao serviço de uma nação cujas bandeiras se agitam patrioticamente
por cima das figuras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoEndnoteText">
<br /></div>
</div>
</div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-92103064883409878912012-04-28T01:24:00.002-07:002012-04-28T01:24:06.422-07:00Palcos de Guerra - Marta Mestre<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 15px; line-height: 22px;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt; line-height: 150%;">A montagem da
pintura e a sua apresentação corresponde a um processo cultural de colocação e
ajustamento das imagens por relação a um observador. A exigência regular de um
quadro é que se nos apresente à altura dos olhos, no espectro do nosso campo de
visão, na distância ideal de observação de uma imagem. No entanto, esta
exigência não é antiga, uma vez que as condições de visibilidade se reelaboram
constantemente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">A exposição que
Martinho Costa apresenta no Centro de Artes de Sines, proposta que pretende funcionar
como reagente sobre aspectos da arquitectura da Sala Principal do Centro de Exposições,
estimula as condições da percepção deste espaço físico. Sobre este aspecto tem
particular relevância a antiga prática da montagem da “pintura histórica” num
plano propositadamente elevado da parede. Esta prescrição esteve na discussão
dos critérios de montagem promovida por artista, curador e instituição, mas foi
posteriormente abandonada a favor de uma montagem q</span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">ue amplificasse a participação do espectador nos “palcos de guerra” (<i>estamos dentro</i>, como refere Bruno
Marques curador da exposição). Ambas as opções, a defunta e a prevalecente,
iluminam a relação de “bonne distance” entre o observador e a obra de arte,
aspecto que é tanto físico como filosófico. </span><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">A distância a partir da qual a visão
apreende as coisas tem uma importância fundamental. Este aspecto foi reforçado
pelo historiador Aloïs Riegl a propósito do binómio háptico/ óptico que, no
caso vertente</span><span lang="ES" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">, permite considerar que <i>ver</i> e <i>tocar</i> são acções intermutáveis, de acordo com a distância que nos
colocamos perante estas batalhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 1.0cm; text-align: justify; text-indent: -1.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">O conjunto </span><i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Völkerwanderung (A
Deambulação dos Povos)</span></i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">, de Martinho Costa é igualmente
pretexto para uma evocação das batalhas actuais do visível, adensadas pelas
tecnologias do séc. XXI. É sobre isso que escreve Bruno Marques, relembrando-nos
o <i>espectáculo puro</i> de um campo de
batalhas sem lugar nem tempo, decalcado das consolas PC, que Martinho Costa
explora “servindo” uma pesquisa alargada sobre os dispositivos do ver (e da
vigilância). Em certa medida, este trabalho resume a seguinte questão: Quais
são os elementos de continuidade que ligam a imagética contemporânea com as
antigas organizações do visual?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">Marta Mestre<o:p></o:p></span></div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-72596014902509182682012-04-28T01:22:00.000-07:002012-10-18T01:44:04.041-07:00REPRESENTAÇÕES FICCIONAIS DA PAISAGEM - Israel Guarda<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 126.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">“… nous aboutissons aujourd’ hui à la suprèmatie de la
lumière, à la mesure toujours plus exigeante de sa vitesse de propagation, pour
tenter de projecter la forme-image d’ un milieux naturel où les longuers
d’espace et de le distances de temps sont fondues/confundues dans une
représentation purement numérique, une <i>image
synthétique</i> qui n’ est plus de l’orde de l’ observation directe, ni même de
l’ ordre de la visulatization optique innovée par Galilée, mais celui de
récepteurs électromagnétiques, ou encore, d’ analyseurs de spectres et de
«fréquences-mètres» dont l’ aqcquisiton de données est elle-même pilotée par
ordinateur.” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 126.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 126.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">VIRILIO, Paul – <i>L’
Espace Critique</i>, Christian Bourgois Éditeur: Paris, 1984, pp.: 49-50. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os trabalhos recentes de Martinho
Costa procuram recriar pela pintura as imagens virtuais de jogos de computador<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_edn1" name="_ednref1" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[1]</span></span></span></a>,
“reflectindo sobre as condições de possibilidade da pintura na sua relação com
os meios digitais.”<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_edn2" name="_ednref2" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[2]</span></span></span></a>.
Esta experiência pretende inquirir o potencial pictórico e visual das imagens
desses jogos, onde a simulação dos ambientes de batalhas e das paisagens recriam
uma esteticização dos factos históricos, recriando uma nova realidade/ficção.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As imagens dos jogos de
computador seleccionadas apresentam paisagens idílicas, sintetizando e
documentando factos ocorridos em determinados contextos históricos. A
reprodução é feita na maior parte dos casos num plano aéreo, abarcando diversos
cenários: uma estrutura fortificada, uma paisagem costeira ou uma cena de caça.
O conjunto de elementos recolhidos apresenta-se estilizado, compondo quadros
estáticos de diferentes imagens de jogos, convertidas sob a forma de paisagens fictícias. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O recurso à pintura de óleo e ao
formato de retábulo (remetendo para a ideia de retábulo pré-renascentista) como
forma de recapturar estas imagens, teve intencionalmente o propósito de
deslocar a imagem virtual<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_edn3" name="_ednref3" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[3]</span></span></span></a>, para
fora do seu campo privilegiado, o computador. A transferência da imagem de um
médium dominante no mundo contemporâneo para um género de pintura em desuso, coloca
em confronto dois meios distintos de representar a realidade: a primeira, a
imagem digital como simulacro do real, e a segunda, a imagem reproduzida segundo
os cânones da representação clássica.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A confrontação entre estas duas realidades
não se apresenta clara ao espectador, porque a desígnio do artista foi agregar
os elementos de cada um dos média, manipulando-os. A pintura resultante desse
processo tem um carácter ilusório, com paralelos com a banda desenhada, na qual
a estrutura e a linguagem computacional não deixam de estar presentes,
contribuindo para ludibriar a nossa recepção/contacto com estas formas de
paisagem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O processo pictórico reproduz a
composição de uma imagem digital, cujo suporte tem uma linguagem puramente numérica,
subordinando à partida as condições reais da pintura. A pintura/imagem
reproduzida, mantendo a sua essência morfológica (pixel)<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_edn4" name="_ednref4" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[4]</span></span></span></a>,
confronta-nos por um lado com a imagem gráfica de um jogo de computador e, por
outro, com a pintura como extensão dessa realidade. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Trata-se de um jogo cínico, no
qual a consciência crítica do artista comanda a acção, dado que a pintura formaliza
a imagem virtual codificada e estetizada e converte-a numa potencial narrativa
histórica. O significado da imagem procura pontos de ligação com a nossa
cultura, mas também pretende provocar a consciência crítica do jogador/espectador,
que se vê compelido a discutir a autenticidade das imagens, nas quais o espaço
representado não se apresenta cartografável, tendo uma origem virtual fabricada
e manipulada. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A imagem final apresenta uma
aparência lúdica e agradável, produzindo um novo tipo de realidade (histórica
ou não), visto que o processo de conversão da imagem virtual do jogo de computador
para a pintura convocou o aleatório dessa imagem, perdendo-se a referência ao
seu contexto. Os títulos das obras remetem-nos inclusive para o vazio, valendo-nos
apenas a paisagem puramente visual.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As pinturas apresentam também analogias
em termos formais com os trabalhos do artista neo-impressionista<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_edn5" name="_ednref5" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[5]</span></span></span></a>, Georges
Seurat. O método de pesquisa procede de uma visão científica, cujo efeito se
expressa através de uma imagem complexamente organizada, composta por um
elevado número de ínfimas partículas (cores) justapostas (pixel). Embora esta
referência se manifeste de forma involuntária no trabalho de Martinho, as
preocupações estéticas/formais que estiveram na base da construção da imagem
digital passaram de forma vigorosa para a pintura deste. A pintura apropriou
incondicionalmente a panóplia de influências que os criadores e programadores
de jogos de computadores usaram para criar o cenário virtual dos jogos de
computador. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A apropriação da imagem do jogo
de computador para a pintura reequaciona, assim, a concepção do real na
sociedade contemporânea e o seu carácter transitório/fugidio. A dimensão
corpórea e estática que a pintura lhe confere não suprimem a sua origem
digital, coagindo o espectador a criar pontos de identificação num campo já de
si demasiado intrincado<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_edn6" name="_ednref6" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 12pt;">[6]</span></span></span></a>. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em suma, o trabalho de Martinho posiciona-se
numa situação de limiar, localizado justamente entre a imagem digital e o
processo pictórico da sua representação. Nessa fronteira, o artista pesquisa as
fragilidades de um sistema deslumbrado pela imagem virtual, utilizando a
pintura como receptáculo, questionando por este meio o papel dos meios digitais
sobre a nossa percepção da realidade, da história e em última análise da
paisagem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="edn1">
<div class="MsoEndnoteText">
<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_ednref1" name="_edn1" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;">[1]</span></span></span></a>
O mesmo tópico tem sido trabalhado pelo artista de origem grega, Miltos
Manetas, desde a década de 90. A abordagem deste artista tematiza o universo
das tecnologias computacionais e os jogos de computador, através da pintura
enquanto médium de reflexão sobre as diversas formas de extensão do real. <span lang="EN-GB">Miltos Manetas – “Copying Videogames
is the Art of Our Days”, in <a href="http://www.manetas.com/">www.manetas.com</a>,
2004.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn2">
<div class="MsoEndnoteText">
<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_ednref2" name="_edn2" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;">[2]</span></span></span></a>
Excerto de um texto inédito do próprio artista, <i>Völkerwanderung – Projecto de realização artística em pintura,</i> Lisboa,
2006. </div>
</div>
<div id="edn3">
<div class="MsoEndnoteText">
<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_ednref3" name="_edn3" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;">[3]</span></span></span></a>
Imagem com código de informação numérica com grande capacidade de reprodução e
manipulação.</div>
</div>
<div id="edn4">
<div class="MsoNormal">
<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_ednref4" name="_edn4" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;">[4]</span></span></span></span></a><span style="font-size: 10pt;"> O pixel em rigor trata-se de um código de informação
numérica que possibilitou uma revolução no ambiente de trabalho dos
computadores, permitindo criar o dinamismo no processamento de texto e imagem e
representar tridimensionalmente o espaço, mas mais importante possibilitou o
imaterial tornar-se material, William J. Mitchell – <i>E-topia Urban Life, Jim – but not as we Know it</i>, Massachussetts: MIT
Press, 2000, p. 41. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="edn5">
<div class="MsoEndnoteText">
<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_ednref5" name="_edn5" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;">[5]</span></span></span></a>
O neo-impressionismo teve uma difusão europeia, no contexto da qual se insere o
divisionismo. A teoria do divisionismo apresenta uma relação forte com a arte
do Século XX, tendo sido percursora da televisão e da imagem digital. </div>
</div>
<div id="edn6">
<div class="MsoEndnoteText">
<a href="file:///D:/pintura/3%20Pastoral/ensaiotrabalhomartinho.doc#_ednref6" name="_edn6" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-size: 10pt;">[6]</span></span></span></a>
Este processo convoca o conceito de dupla artialização desenvolvido por Alain
Roger relativamente à percepção da paisagem: artialização in situ (no terreno)
e artialização in visu (através do olhar). <span lang="EN-GB">In Alain Roger – “Histoire d’ une Passion Théorique ou Comment on
devient un Raboliot du Paysage”, in <i>Cinq
Propositions pour une Théorie du Paysage</i>, sur la direction de Augustin
Berque, Paris: Champ Vallon, p. 115. <o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-7470318746458679632012-04-28T01:14:00.001-07:002012-10-18T01:42:21.431-07:00PAISAGENS IDÍLICAS - Nuno Crespo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">“<i>A civilização corrompe, o
engenho humano produz, crosta sobre crosta, armaduras ferozes, que defendem e
impedem o contacto com a pele de toda a coisa, com as forças elementares,
tapados quase todos os poros. Como se a atmosfera da civilização estivesse
embrulhada em papel de celofane, barato, isolando-a de Deus</i>.” Maria
Filomena Molder, A Imperfeição da Filosofia</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O
mundo transformado em simples produto humano, vidas configuradas em imagens
produzidas por uma força motriz desconhecida, avassaladora, inclemente, almas
rasgadas a expor a ferida que o facto de estar vivo implica: este poderia ser o
retrato dos tempos que correm. Uma espécie de consciência dos efeitos e
transformações que a vida na cidade moderna implica e que é vista como uma
espécie de continua intoxicação causada pela própria capacidade humana de
produção, de alteração, de inebriação. Mas esta já não é uma força potente e
produtiva, como porventura terá sido o impulso dionisíaco, mas sim um elemento
de destituição, de corrupção. Não está em causa um retrato reacionário ou
nostálgico, antes trata-se de um aguçar da atenção para o mundo e da
constatação dos impedimentos que continuamente são erguidos entre nós –
cidadãos de pleno direito – e o mundo, a natureza e os outros homens. A
possibilidade de comunidade humana desfaz-se e em vez dela surge uma espécie de
isolamento e encerramento de cada um em si próprio, impossibilitados de
estabelecer qualquer relação com aquilo que nos rodeia. Este isolamento e
individuação radical podem surgir com tons, sons e formas encantatórias, mas
este maravilhamento, face ao qual facilmente sucumbimos, é a armadilha
produzida pelo engenho humano corrosivo que Maria Filomena Molder apresenta.
Não se trata de um despenhamento no exterior como forma de reencontro consigo
próprio, mas sim de um descentramento, de um perder-se irremediavelmente.
Esquecidos de nós próprios, isolados e impossibilitados de qualquer forma de
contacto resta-nos a vertigem sobre o nosso próprio rosto (produto do nosso engenho):
uma espécie de Narciso e Eco que já não podem reconhecer outro rosto que não o
seu e outro som que não o da sua própria voz.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> Se esta poderia ser a descrição de
uma determinada experiência da modernidade – veja-se Baudelaire, Rilke e Celan
-, ela também pode ser a apresentação de uma determinada disposição e ambiente
civilizacionais ou progressistas. É nesta segunda possibilidade que podemos
integrar as pinturas de Martinho Costa. Não se trata de uma integração num
sistema que aniquile a sua especificidade e singularidade – o seu mistério -,
mas sim do gesto de detectar a sua familiaridade com elementos comuns, da
descoberta da sua afinidade com uma determinada comunidade: estética, política
e humana. As suas pinturas não são simples gestos críticos, tratam-se de
paragens durante as quais nascem retratos de um mundo reconhecido como sendo o
nosso. Os problemas que estas pinturas colocam são ambíguos, mas é uma
ambiguidade produtiva porque se constituí como abertura para as tensões que
caracterizam o olhar. Tratam-se de paisagens urbanas não originadas na fantasia
gestual do pintor, mas sim na linguagem supostamente pura – incontaminada - da
matemática. Estes retratos de uma certa configuração da vida transportam as
marcas da realidade digital: imagens recolhidas num jogo de computador que
simula a cidade perfeita - uma espécie metáfora de um mundo sarado das suas
aflições e livre dos despenhamentos dos seus vôos - e que depois são
transpostas para a tela.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> Que se trate de um jogo, não com a
pintura, não significa tratar-se de uma brincadeira, daquelas que
inconsequentemente fazemos para matar o tédio do tempo que passa. O jogo é nas
pinturas de Martinho uma metáfora para dar conta de uma face, a maior parte das
vezes escondida e desapercebida, que o real tem sempre: o seu aspecto de jogo,
de encenação, de artificialidade, de contínuo afastamento da origem. E é
precisamente desta distância que se trata: incorporada e transformada numa
espécie de segunda natureza e assumida como o suporte da transformação, recriação
e manipulação que o artista faz das imagens recolhidas nesse mundo não
contaminado pela demência a que o nascimento nos condena a todos. Parece
estarmos todos na situação absurda em que a loucura é transformada em
normalidade e nos esquecemos daquilo que o nascimento necessariamente implica.
Ao contrário de Hamlet – que mesmo louco não perdeu os pontos cardeais que
possibilitam a direcção, o sentido e o reconhecimento <a href="file:///D:/pintura/2%20M%C3%A1quina%20de%20Campanha/Texto%20Cat%C3%A1logo%20Out%202005.doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> – todos
parecemos partilhar de uma espécie de alucinação em que todas as direcções
ficam distorcidas e irreconhecíveis. E é deste absurdo, existencial e
pictórico, que as pinturas de Martinho se alimentam. É como se a
artificialidade de uma condição humana inventada fosse o material no qual os
gestos do pintor encontram o seu ponto de origem e a sua chegada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> Pouco importa saber qual é o
processo de transposição e de manipulação da realidade digital para a realidade
pictórica, decisivo é o modo como essa mesma imagem reaparece aos nossos olhos
e ao manter a sua identidade ganha um princípio de constatação crítica. Parece
que a clonização a que as diferentes realidade são sujeitas é uma estratégia
particular de reconciliação com as diferentes configurações do real. Não existe
espaço para movimentos de recolha etnográfica e/ou antropológica, mas são
momentos de pacificação das energias humanas com o estado inevitável em que a
paisagem – urbana, íntima, fabril – vai sendo construída. O espanto, que pode
ser lido como recusa, é daquele que com o olhar procura o ainda não corrompido
e só encontra a mão humana: é como se o real tivesse sido transformado num
espelho colossal e sempre que para ele olhamos só conseguimos ver o nosso
próprio rosto. É inevitável que o movimento, em primeiro lugar pictórico e
depois abstracto, que encontramos nestas pinturas possa ser assumido como uma
espécie de crítica social e civilizacional. O positivismo – optimista e
progressista que reina nas mentes – é que aqui mostrado no seu lado mais rude,
na sua lógica de mera acumulação e de acrescento: casas iguais, talvez com
vidas semelhantes e padronizadas, multiplicam-se indefinidamente até se
transformarem numa massa indistinta e amorfa. O mistério da singularidade –
conquista dionisíaca e celebração nietzschiana – é eclipsado e no seu lugar
surge unicamente a imagem da série: simples, contínua, padronizada, não
espontânea.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"> A perspectiva aérea – suposto ponto
de vista daquele que quer ver as coisas sem com elas se confundir e assim
tentar ver verdadeiramente como as coisas são – é o mecanismo encontrado para a
neutralidade, procurada e ensaiada, daquele que vê e depois transforma os
produtos da sua visão em imagem. Esta distância, metódica e crítica, funciona
como uma espécie de vôo no qual, em primeiro lugar, o pintor e, depois, o
espectador se encontram numa espécie de fala e visão comuns. O detalhe,
necessariamente esbatido e por vezes indistinto, é sacrificado em nome da visão
do todo, em nome da abertura de horizonte e de perspectiva nos quais é a
geometria globalizante e envolvente que surge em primeiro plano. Ver de cima,
como se não fizéssemos parte disso que observamos, é a possibilidade da pintura
de Martinho Costa. É verdade que não se trata de uma visão natural – mas
lembre-se, uma vez mais, que as imagens digitais são possibilitadas pelo
engenho humano e que o conceito de ‘natural’ é só mais um produto das
capacidades produtivas, culturais e simbólicas dos homens – mas de uma
possibilidade actuante, real, existente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A
artificialidade deste modo de ver as coisas é um facto, mas é um elemento
necessário e uma consequência da perspectiva que o artista quer construir: é
como se subitamente fosse possível ver o mundo do lado de fora, não estando
nele, como se fossemos meros espectadores de uma realidade que se desenvolve
sem qualquer intervenção humana. Deste modo o mundo surge – à boa maneira de
Nietzsche – como um imenso cenário no qual as vidas são jogadas e encenadas
como se de uma peça de teatro se tratasse: a diferença é que num palco, e na
arte em geral, os corpos parecem fugir e escapar à gravidade que a vida na
terra – condição da existência – sempre exige e nestas pinturas a gravidade
faz-se sentir, reclama o reconhecimento da sua existência e exige que lhe sejam
prestadas as devidas homenagens. Por isso às paisagens urbanas e residenciais
idílicas, Martinho mostra/pinta as fábricas das quais se advinham as atmosferas
internas reinantes. Deste modo, aquele que parecia estar à beira do paraíso
surge no seu carácter grave e a condição paradisíaca é mostrada enquanto
paradoxo, enquanto local impróprio para um corpo habitar, enquanto máscara do
fundo, que se advinha doloroso, necessário às metamorfoses de um ser humano.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span lang="PT-BR">
</span><span lang="PT-BR">Nuno Crespo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span lang="PT-BR"> </span><span lang="PT-BR" style="font-size: 9pt;">Out/2005<o:p></o:p></span></span></div>
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br clear="all" />
</span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="file:///D:/pintura/2%20M%C3%A1quina%20de%20Campanha/Texto%20Cat%C3%A1logo%20Out%202005.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT-BR"> </span><span lang="EN-GB">“I am but mad north-north-west. When the wind is southerly, I know a
hawk from a handsaw. / Só estou louco a norte-noroeste. </span><span lang="PT-BR">Se
o vento é de sul, sei muito bem distinguir uma águia de um serrote.”
Shakespeare, Hamlet, II Acto, II Cena, trad. António M. Feijó, Relógio D’Água
Editores.</span></span></div>
</div>
</div>
Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5628104001530223784.post-51669255055517341702012-04-26T04:11:00.000-07:002012-04-26T04:11:11.734-07:00LA PRECARIA IMAGEN DEL CONTROL - Daniel Villegas<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<st1:personname productid="LA PRECARIA IMAGEN" w:st="on"><span lang="ES" style="color: grey; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">LA PRECARIA IMAGEN</span></st1:personname><span lang="ES" style="color: grey; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;"> DEL CONTROL<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="ES" style="color: grey; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Daniel Villegas</span><span lang="ES" style="color: grey; font-family: Arial;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">Los paisajes urbanos de la sobremodernidad, los no lugares analizados
por Augé, intercambiables entre si gracias al estilo internacional, recordemos <i>Playtime</i>
de Tati, y a la perdida de información derivada del mecanismo de captación de
las cámaras de vigilancia de trafico configuran las <i>veduttas</i>
contemporáneas de Martinho Costa. Estas vistas metropolitanas encuentran
precisamente su sentido más actual en la representación de estos espacios
anónimos y especialmente a través de los mecanismos de control tecnológico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">Las tecnologías modernas de control y vigilancia, desarrolladas con el
advenimiento del nuevo régimen burgués tal y como nos señala Foucault, encontraron en el desarrollo del
Panóptico de Bentham su instrumento por excelencia. El Panóptico, predecesor de
los medios contemporáneos de vigilancia, basaba su extraordinaria eficacia no
ya en la vigilancia real de los otros, los celadores de las prisiones, si no en
una constante observación del <i>gran Otro</i> que materializado en una
construcción arquitectónica, una torre, produce la interiorización de la
vigilancia, inhabilitándose los espacios de penumbra que escapaban a su
control.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">La vigilancia panóptica del <i>gran Otro</i> ha implosionado gracias a
nuevas tecnologías en innumerables dispositivos que, a diferencia de la torre
benthiana, han perdido cuerpo acorde con el proceso desmaterializador
contemporáneo haciéndose presencia únicamente a través de la fantasmagoría de
sus imágenes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">Sin embargo, como podemos apreciar en los frames de las grabaciones de control de trafico con las
que trabaja Martinho Costa, encontramos una paradoja en relación con la
verosimilitud debido a la precaria calidad de estas imágenes originada por la
gran perdida de información que se produce en determinados procesos
tecnológicos de comunicación. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">En principio, habría un común acuerdo en la relación existente entre la
calidad de la imagen, en el sentido de definición, con la experimentación del
efecto de verosimilitud, elemento fundamental para sostener el mecanismo de
control basado en una vigilancia optima que todo lo ve, estando ambos fenómenos
estrechamente ligados; a mayor calidad de imagen le correspondería una
sensación igualmente superior de verdad. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">No obstante, estas cámaras de vigilancia de las vías publicas, al igual
que las de los satélites espías, nos ofrecen imágenes muy poco precisas que sin
embargo debido a su naturaleza se nos muestra como absolutamente reales. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">Una vez digerida la condición de <i>simulacro</i>, apuntada por
Baudrillard, y del <i>todo ficcional</i>, analizada por Augé, de la sociedad
tecnológica contemporánea donde las imágenes de alta resolución delatan su
hiperrealidad, como se puede inferir de la observación de la fotografía
construida de Gursky o Cottingham, se
vuelve a mirar a la representación precaria como sinónimo de realidad
refugiándose en los jirones de lo documental.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">Del mismo modo, la perdida de información en las comunicaciones de
control, que en un análisis apriorístico podría suponer innumerables desventajas,
se convierte a la luz del todo–ficción en un instrumento de gran eficacia. Como
señala Mirzoeff, en torno a la tecnología visual de vigilancia, la eficacia de
estas imágenes no gravita en que produzcan un aumento en la seguridad de los
ciudadanos, ejemplificando esta cuestión en el secuestro del pequeño Jamie
Bulger grabado por las cámaras de un centro comercial de Liverpool, o que nos
ofrezcan un conocimiento de lo que acontece ya que “la visualización de la vida
cotidiana no significa que necesariamente conozcamos lo que observamos”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">Entonces, ¿a que responde la ingente cantidad de dispositivos de
captación visual que pueblan el espacio contemporáneo? Esta hiperproducción
podría estar relacionada, por una parte, con la construcción de un metacuerpo
difuso que siempre recuerde la presencia de la visión y el control automatizado
y por otra con la obtención de imágenes de carácter documental, tal y como ya
se ha señalado, sobre las que proyectar ficciones a conveniencia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">En este sentido, se podrían recordar aquellas imágenes que durante la
precampaña bélica de <st1:personname productid="la Segunda Guerra" w:st="on">la
<i>Segunda Guerra</i></st1:personname><i> del Golfo</i> mostró Colin Powell
para demostrar la existencia en Irak de armas de destrucción masiva. Estas
imágenes donde apenas se podía apreciar unos hangares y algunos vehículos
sostenían una ficción que a modo de textos explicativos mediaban entre las
imágenes de lo <i>real</i> y el mundo. Así quien controla la difusión y lo que
es más importante ostenta la legitimidad interpretativa de esas imágenes, que
por su falta de concisión informativa necesitan de ser interpretadas, tiene el
poder de construir realidad en las coordenadas del todo ficcional
contemporáneo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES" style="font-family: Arial;">La arbitrariedad interpretativa necesita de imágenes precarias donde el
aparato de ficción previa a las mismas encuentre un continente suficientemente
flexible y a la altura de una de las máximas más gloriosas del poder
demoliberal; “La ausencia de pruebas no prueba la ausencia” Donald Rumsfeld
dixit.</span></div>Martinho Costahttp://www.blogger.com/profile/16683983666606608308noreply@blogger.com